O ANARQUISTA

domingo, 27 de fevereiro de 2011

ORGANIZAÇÃO I E II

Errico Malatesta


A ORGANIZAÇÃO I
Agitazione de Ancone, 04/07/1897.

Há anos que muito se discute entre os anarquistas esta questão. E como freqüentemente acontece quando se discute com ardor à procura da verdade, acredita-se, em seguida, ter razão. Quando as discussões teóricas são apenas tentativas para justificar uma conduta inspirada por outros motivos, produz-se uma grande confusão de idéias e de palavras.

Lembraremos, de passagem, sobretudo para nos livrarmos delas, as simples questões de frases empregadas, que, às vezes, atingiram o cúmulo do ridículo, como por exemplo: “Não queremos a organização, mas a harmonização”, “Opomo-nos à associação, mas a admitimos”, “Não queremos secretário ou caixa, porque é um sinal de autoritarismo, mas encarregamos um camarada para se ocupar do correio e outro do dinheiro”; passemos a discussão séria.

Se não pudermos concordar, tratemos pelo menos de nos compreender. Antes de mais nada, distingamos, visto que a questão é tripla: a organização em geral, como princípio e condição da vida social, hoje, e na sociedade futura; a organização das forças populares, e, em particular, a das massas operárias, para resistir ao governo e ao capitalismo.

A necessidade de organização na vida social – direi que organização e sociedade são quase sinônimos – é coisa tão evidente que mal se pode acreditar que pudesse ter sido negada.

Para nos darmos conta disso, é preciso lembrar que ela é a função específica, característica do movimento anarquista, e como homens e partidos estão sujeitos a se deixarem absorver pela questão que os interessa mais diretamente, esquecendo tudo o que a ela se relaciona, dando mais importância à forma que ao conteúdo e, enfim, vendo as coisas somente de um lado, não distinguindo mais a justa noção da realidade.

O movimento anarquista começou como uma reação contra o autoritarismo dominante na sociedade, assim como todos os partidos e organizações operárias, e se acentuou com os adventos de todas as revoltas contra as tendências autoritárias e centralistas.

Era natural, em conseqüência, que inúmeros anarquistas estivessem como que hipnotizados por esta luta contra a autoridade e que eles combatem, para resistir à influência da educação autoritária, tanto a autoridade quanto a organização, da qual ela é a alma.

Na verdade, esta fixação chegou ao ponto de fazer sustentar coisas realmente incríveis. Combateu todo o tipo de cooperação e de acordo porque a associação é a antítese da anarquia. Afirma-se que sem acordos, sem obrigações recíprocas, cada um fazendo o que lhe passar pela cabeça, sem mesmo se informar sobre o que fazem os outros, tudo estaria espontaneamente em harmonia: que a anarquia significa que cada um deve bastar-se a si mesmo e fazer tudo que tem vontade, sem troca e sem trabalho em associação. Assim, as ferrovias poderiam funcionar muito bem sem organização, como acontecia na Inglaterra (!). O correio não seria necessário: alguém de Paris, que quisesse escrever uma carta a Petersburgo... Podia ele próprio levá-la (!!) etc.

Dir-se-á que são besteiras, que não vale a pena discuti-las. Sim, mas estas besteiras foram ditas, propagadas: foram autêntica das idéias anarquistas. Servem sempre como armas de combate aos adversários, burgueses ou não, que querem conseguir uma fácil vitória sobre nós. E, também, estas “besteiras” não são sem valor, visto que são a conseqüência lógica de certas premissas e que podem servir como prova experimental da verdade, ou pelo menos dessas premissas.

Alguns indivíduos, de espírito limitado, mas providos de espírito lógico poderoso, quando aceitam premissas, extraem delas todas as conseqüências até que, por fim, e se a lógica assim o quer, chegam, sem se desconcertar, aos maiores absurdos, à negação dos fatos mais evidentes. Mas há outros indivíduos mais cultos e de espírito mais amplo que encontram sempre um meio de chegar a conclusões mais ou menos razoáveis, mesmo ao preço da violentação da lógica. Para eles, os erros teóricos têm pouca ou nenhuma influência na conduta prática. Mas, em suma, desde que não se haja renunciado a certos erros fundamentais, estamos sempre ameaçados por silogismos exagerados, e voltamos sempre ao começo.

O erro fundamental dos anarquistas adversários da organização é crer que não há possibilidade de organização sem autoridade. E uma vez admitida esta hipótese, preferem renunciar a toda organização, ao invés de aceitar o mínimo de autoridade.

Agora que a organização, quer dizer, a associação com um objetivo determinado e com as formas e os meios necessários para atingir este objetivo, é necessária à vida social, é uma evidência para nós. O homem isolado não pode sequer viver como um animal: ele é impotente salvo em regiões tropicais, e quando a população é muito dispersa) e não pode obter sua alimentação; ele é incapaz, sem exceção, de ter uma vida superior àquela dos animais. Conseqüentemente, é obrigado a se unir a outros homens, como a evolução anterior das espécies o mostra, e deve suportar a vontade dos outros (escravidão), impor sua vontade aos outros (autoritarismo), ou viver com os outros em fraternal acordo para o maior bem de todos (associação). Ninguém pode escapar dessa necessidade. Os antiorganizadores mais imoderados suportam não apenas a organização geral da sociedade em que vivem, mas também em seus atos, em sua revolta contra a organização, eles se unem, dividem a tarefa, organizam-se com aqueles que compartilham suas idéias, utilizando os meios que a sociedade coloca à sua disposição; com a condição de que estes sejam fatos reais e não vagas aspirações platônicas.

Anarquia significa sociedade organizada sem autoridade, compreendendo-se autoridade como a faculdade de impor sua vontade. Todavia, também significa o fato inevitável e benéfico que aquele que compreende melhor e sabe fazer uma coisa, consegue fazer aceitar mais facilmente sua opinião. Ele serve de guia, quanto a esta coisa, aos menos capazes que ele.

Segundo nossa opinião, a autoridade não é necessária à organização social, mais ainda, longe de ajudá-la, vive como parasita, incomoda a evolução e favorece uma dada classe que explora e oprime as outras. Enquanto há harmonia de interesses em uma coletividade, enquanto ninguém pode frustrar outras pessoas, não há sinal de autoridade. Ela aparece com a luta intestina, a divisão em vencedores e vencidos, os mais fortes confirmando a sua vitória.

Temos esta opinião e é por isso que somos anarquistas, caso contrário, afirmando que não pode existir organização sem autoridade, seremos autoritários. Mas ainda preferimos a autoridade que incomoda e desola a vida, à desorganização que a torna impossível.

De resto, o que seremos nos interessa muito pouco. Se é verdade que o maquinista e o chefe de serviço devem forçosamente ter autoridade, assim como os camaradas que fazem para todos um trabalho determinado, as pessoas sempre preferirão suportar sua autoridade a viajar a pé. Se o correio fosse apenas esta autoridade, todo homem são de espírito a aceitaria para não ter de levar, ele próprio, suas cartas. Se se recusa isto, a anarquia permanecerá o sonho de alguns e nunca se realizará.


A ORGANIZAÇÃO II
Agitazione de Ancone, 11/07/1897.

Estando admitida a existência de uma coletividade organizada sem autoridade, isto é, sem coerção, caso contrário, a anarquia não teria sentido, falemos da organização do partido anarquista.

Mesmo nesses casos, a organização nos parece útil e necessária. Se o partido, ou seja, o conjunto dos indivíduos que têm um objetivo em comum e se esforçam para alcançá-lo, é natural que se entendam, unam suas forças, compartilhem o trabalho e tomem todas as medidas adequadas para desempenhar esta tarefa. Permanecer isolado, agindo ou querendo agir cada um por sua conta, sem se entender com os outros, sem preparar-se, sem enfeixar as fracas forças dos isolados, significa condenar-se à fraqueza, desperdiçar sua energia em pequenos atos ineficazes, perder rapidamente a fé no objetivo e cair na completa inação.

Mas isto parece de tal forma evidente que, ao invés de fazer sua demonstração, responderemos aos argumentos dos adversários da organização.

Antes de mais nada, há uma objeção, por assim dizer, formal. “Mas de que partido nos falais? Dizem-nos, nem sequer somos um, não temos um programa”. Este paradoxo significa que as idéias progridem, evoluem continuamente, e que eles não podem aceitar um programa fixo, talvez válido hoje, mas que estará com certeza ultrapassado amanhã.

Seria perfeitamente justo se se tratasse de estudantes que procuram a verdade, sem se preocuparem com as aplicações práticas. Um matemático, um químico, um psicólogo, um sociólogo podem dizer que não há outro programa senão o de procurar a verdade: eles querem conhecer, mas sem fazer alguma coisa. Mas a anarquia e o socialismo não são ciências: são proposições, projetos que os anarquistas e os socialistas querem por em prática e que, conseqüentemente, precisam ser formulados como programas determinados. A ciência e a arte das construções progridem a cada dia. Mas um engenheiro, que quer construir ou mesmo demolir, deve fazer seu plano, reunir seus meios de ação e agir como se a ciência e a arte tivessem parado no ponto em que as encontrou no início de seu trabalho. Pode acontecer, felizmente, que ele possa utilizar novas aquisições feitas durante seu trabalho sem renunciar à parte essencial de seu plano. Pode acontecer do mesmo modo que as novas descobertas e os novos meios industriais sejam tais que ele se veja na obrigação de abandonar tudo e recomeçar do zero. Mas ao recomeçar, precisará fazer novo plano, com base no conhecimento e na experiência; não poderá conceber e por-se a executar uma construção amorfa, com materiais não produzidos, a pretexto que amanhã a ciência poderia sugerir melhores formas e a indústria fornecer materiais de melhor composição.

Entendemos por partido anarquista o conjunto daqueles que querem contribuir para realizar a anarquia, e que, por conseqüência, precisam fixar um objetivo a alcançar e um caminho a percorrer. Deixamos de bom grado às suas elucubrações transcendentais os amadores da verdade absoluta e de progresso contínuo, que, jamais colocando suas idéias à prova, acabam por nada fazer ou descobrir.

A outra objeção é que a organização cria chefes, uma autoridade. Se isto é verdade, se é verdade que os anarquistas são incapazes de se reunirem e de entrarem em acordo entre si sem se submeter a um autoridade, isto quer dizer que ainda são muito pouco anarquistas. Antes de pensar em estabelecer a anarquia no mundo, devem pensar em se tornar capazes de viver como anarquistas. O remédio não está na organização, mas na consciência perfectível dos membros.

Evidentemente, se em uma organização, deixa-se a alguns todo o trabalho e todas as responsabilidades, se nos submetemos ao que fazem alguns indivíduos, sem por a mão na massa e procurar fazer melhor, esses “alguns” acabarão, mesmo que não queiram, substituindo a vontade da coletividade pela sua. Se em uma organização todos os membros não se interessam em pensar, em querer compreender, em pedir explicações sobre o que não compreendem, em exercer sobre tudo e sobre todos as suas faculdades críticas, deixando a alguns a responsabilidade de pensar por todos, esses “alguns” serão os chefes, as cabeças pensantes e dirigentes.

Todavia, repitamos, o remédio não está na ausência de organização. Ao contrário, nas pequenas como nas grandes sociedades, excetuando a força brutal, a qual não nos diz respeito no caso em questão, a origem e a justificativa da autoridade residem na desorganização social. Quando uma coletividade tem uma necessidade e seus membros não estão espontaneamente organizados para satisfazê-la, surge alguém, uma autoridade que satisfaz esta necessidade servindo-se das forças de todos e dirigindo-as à sua maneira. Se as ruas são pouco seguras e o povo não sabe se defender, surge uma polícia que, por uns poucos serviços que presta, faz com que a sustentem e a paguem, impõe-se a tirania. Se há necessidade de um produto e a coletividade não sabe se entender com os produtores longínquos para que eles enviem esse produto em troca por produtos da região, vem de fora o negociante que se aproveita da necessidade que possuem uns de vender e outros de comprar e impõe os preços que quer a produtores e consumidores.

Como vedes, tudo vem sempre de nós: quanto menos estávamos organizados, mais nos encontrávamos sob a dependência de certos indivíduos. E é normal que tivesse sido assim.

Precisamos estar relacionados com os camaradas das outras localidades, receber e dar notícias, mas não podemos todos nos correspondermos com todos os camaradas. Se estamos organizados, encarregamos alguns camaradas de manter a correspondência por nossa conta; trocamo-os se eles não nos satisfazem, e podemos estar informados sem depender da boa vontade de alguns para obter uma informação. Se, ao contrário, estamos desorganizados, haverá alguém que terá os meios e a vontade de corresponder; ele concentrará em suas mãos todos os contatos, comunicará as notícias como bem quiser, a quem quiser. E se tiver atividade e inteligência suficientes, conseguirá, sem nosso conhecimento, dar ao movimento a direção que quiser, sem que nos reste a nós, a massa do partido, nenhum meio de controle, sem que ninguém tenha o direito de se queixar, visto que este indivíduo age por sua conta, sem mandato de ninguém e sem ter que prestar contas a ninguém de sua conduta. Precisamos de um jornal. Se estamos organizados, podemos reunir os meios para fundá-lo e fazê-lo viver, encarregar alguns camaradas de redigi-lo e controlar sua direção. Os redatores do jornal lhe darão, sem dúvida, de modo mais ou menos claro, a marca de sua personalidade, mas serão sempre pessoas que teremos escolhido e que poderemos substituir. Se, ao contrário, estamos desorganizados, alguém que tenha suficiente espírito de empreendimento fará o jornal por sua própria conta: encontrará entre nós os correspondentes, os distribuidores, os assinantes, e fará com que sirvamos seus desígnios, sem que saibamos ou queiramos. E nós, como muitas vezes aconteceu, aceitaremos ou apoiaremos este jornal, mesmo que não nos agrade, mesmo que tenhamos a opinião de que é nocivo à Causa, porque seremos incapazes de fazer um que melhor represente nossas idéias.

Desta forma, a organização, longe de criar a autoridade, é o único remédio contra ela e o único meio para que cada um de nós se habitue a tomar parte ativa e consciente no trabalho coletivo, e deixe de ser instrumento passivo nas mãos dos chefes.

Se não fizer nada e houver inação, então, certamente, não haverá nem chefe, nem rebanho; nem comandante, nem comandados, mas, neste caso, a propaganda, o partido, e até mesmo a discussão sobre a organização, cessarão, o que, esperamos, não é o ideal de ninguém...

Contudo, uma organização, diz-se supõe a obrigação de coordenar sua própria ação e a dos outros, portanto, violar a liberdade, suprimir a iniciativa. Parece-nos que o que realmente suprime a liberdade e torna impossível a iniciativa é o isolamento que produz a impotência. A liberdade não é direito abstrato, mas a possibilidade de fazer algo. Isto é verdade para nós como para a sociedade em geral. É na cooperação dos outros que o homem encontra o meio de exercer sua atividade, seu poder de iniciativa.

Evidentemente, organização significa coordenação de forças com um objetivo comum, e obrigação de não promover ações contrárias a este objetivo. Mas quando se trata de organização voluntária, quando aqueles que dela fazem parte têm de fato o mesmo objetivo e são partidários dos mesmos meios, a obrigação recíproca que a todos engaja obtém êxito em proveito de todos. Se alguém renuncia a uma de suas idéias pessoais por consideração à união, isto significa que acha mais vantajoso renunciar a uma idéia, que, por sinal, não poderia realizar sozinho, do que se privar da cooperação dos outros no que acredita ser de maior importância.

Se, em seguida, um indivíduo vê que ninguém, nas organizações existentes, aceita suas idéias e seus métodos naquilo que têm de essencial, e que em nenhuma organização pode desenvolver sua personalidade como deseja, então estará certo em permanecer de fora. Mas, se não quiser permanecer inativo e impotente, deverá procurar outros indivíduos que pensem como ele, e tornar-se iniciador de uma nova organização.

Uma outra objeção, a última que abordaremos, é que, estando organizados, estamos mais expostos à repressão governamental.

Parece-nos, ao contrário, que quanto mais unidos estamos, mais eficazmente nos podemos defender. Na realidade, cada vez que a repressão nos surpreendeu enquanto estávamos desorganizados, colocou-nos em debandada total e aniquilou nosso trabalho precedente. Quando estávamos organizados, ela nos fez mais bem do que mal. Assim também no que concerne ao interesse pessoal dos indivíduos: por exemplo, nas últimas repressões, os isolados foram tanto e talvez mais gravemente atingidos do que os organizados. É o caso, organizados ou não, dos indivíduos que fazem propaganda individual. Para aqueles que nada fazem e ocultam suas convicções, o perigo é certamente mínimo, mas a utilidade que oferecem à Causa também o é.

O único resultado, do ponto de vista da repressão, que se obtém por estar desorganizado é autorizar o governo a nos recusar o direito de associação e tornar possível monstruosos processos por associação delituosa. O governo não agiria dessa forma em relação às pessoas que afirmam de modo altivo e público, o direito e o fato de estarem associados e, se ousasse fazê-lo, isto se voltaria contra ele e em nosso proveito.

De resto, é natural que a organização assuma as formas que as circunstâncias aconselham e impõem. O importante não é tanto a organização formal, mas o espírito de organização. Podem acontecer casos, durante o furor da reação, em que seja útil suspender toda correspondência, cessar todas as reuniões: será sempre um mal, mas se a vontade de estar organizado subsiste, se o espírito de associação permanece vivo, se o período precedente de atividade coordenada multiplicou as relações pessoais, produziu sólidas amizades e criou um real acordo de idéias de conduta entre os camaradas, então o trabalho dos indivíduos, mesmo isolados, participará do objetivo comum. E encontrar-se-á rapidamente o meio de nos reunirmos de novo e repararmos os danos sofridos.

Somos como um exército em guerra e podemos, segundo o terreno e as medidas tomadas pelo inimigo, combater em massa ou em ordem dispersa: o essencial é que nos consideremos sempre membros do mesmo exército, que obedeçamos todos às mesmas idéias diretrizes e que estejamos sempre prontos a nos reunirmos em colunas compactas quando for necessário e quando se puder fazer algo.

Tudo o que dissemos se dirige aos camaradas que são de fato adversários do princípio da organização. Àqueles que combatem a organização, somente porque não querem nela entrar, ou não são aceitos, ou não simpatizam com os indivíduos que dela fazem parte, dizemos: façam com aqueles que estão de acordo com vocês outra organização. É verdade, gostaríamos de poder estar, todos nós, de acordo, e reunir em um único feixe poderoso todas as forças do anarquismo. Mas não acreditamos na solidez das organizações feitas à força de concessões e de restrições, onde não há entre os membros simpatia e concordância real. É melhor estarmos desunidos que mal unidos. Mas gostaríamos que cada um se unisse com seus amigos e que não houvesse forças isoladas, forças perdidas.

 * Traduzido por Plínio A. Coêlho

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A ANARQUIA



O anarquismo não é uma doutrina inventada na idade moderna por Proudhom , Bakunin e outros , mas é um conjunto de idéias libertárias que se desenvolveu desde que o homem comum foi submetido a outro homem que por algum disturbio se achou superior e apto a subordiná-lo .
Na China Antiga , Lao-Tsé faz uma crítica a Confúcio , estadista chines , pela imposição dos "bons costumes", pois para Lao-Tsé o povo deveria ser livre para achá-los , e normas coercitivas não eram a melhor forma para fazê-lo . 
Os gregos chegaram a exercer uma democracia direta , mas que pecava no conceito de cidadania que excluia da vida política os estrangeiros ( de direito sanguineo e do solo ) , mulheres , além de aceitar a escravatura .A Filosofia grega é grande fonte do pensamento Anarquista , por exemplo , Heráclito de Éfeso e a fluência incessante das coisas -" Não podes entrar duas vezes no mesmo rio" . Mas note que Heráclito não era libertário , e sim um pré-socrático muito confuso e mítico : "Lei é também persua-dir-se a vontade de um só" .Já Epicuro concebia que todos homens eram iguais entre si e Zeno , o estóico, concebeu a rejeição ao Estado. 
Principais Idéias Anarquistas

Anarquismo é geralmente identificado como caos ou "bagunça", por ser uma doutrina política que defende a abolição de qualquer tipo de governo formal; mas, na verdade não é bem isso. Etimologicamente esta palavra é formada pelo sufixo de archon, que em grego significa governante, e an, que significa sem. Ou seja, anarquismo significa ao pé da letra "semgovernante". A principal idéia que rege o anarquismo é de que o governo é totalmente desnecessário, violento e nocivo, tendo em vista que se toda a população pode, voluntariamente, se organizar e sobreviver em paz e harmonia. 
A proposta dos anarquistas é contraditória ao sistema capitalista mas, não deve ser confundida com o individualismo pois, como já foi dito, está fundamentada na cooperação e aceitação da realidade por parte da comunidade. De acordo com os principais pensadores anarquistas, o homem é um ser que por natureza é capaz de viver em paz com seus semelhantes mas órgãos governamentais acabam inibindo esta tendência humana de cooperar com o resto da sociedade. 
Com isso, podemos perceber que uma sociedade anarquista não é algo totalmente descontrolado como todos pensam, muito pelo contrário, esta é uma sociedade bem estruturada e organizada, só que esta organização está baseada neste instinto natural do homem. Ou seja, ela depende da autodisciplina e cooperação voluntária, e não uma decisão hierárquica. 
A sociedade cria uma construção artificial, na qual a ordem é imposta de cima para baixo, como em uma pirâmide. Já no anarquismo a sociedade não seria uma estrutura e sim um organismo vivo que cresce em função da natureza. 
Por isso, os anarquistas abominam a formação de qualquer partido político pois estes acabam com a espontaneidade de ação, burocratizando-se e exercendo alguma forma de poder sobre o resto da população. Eles também temem as estruturas teóricas na medida em que estas podem se tornar autoritárias ou "sentenciosas". 
Daí o anarquismo ser conhecido como algo vivo, e não uma simples doutrina, a ausência de poder e controle na mão de alguns torna o movimento anarquista algo frágil e flexível. A crítica ao poder do Estado leva à tentativa de inverter a pirâmide hierárquica de poder, o que formaria um sociedade descentralizada que procura estabelecer um relação de forma mais direta possível. A responsabilidade começa nos núcleos vitais de civilização, onde também são tomadas as decisões, local de trabalho, bairros, etc.. Quando estas decisões não são possíveis de ser tomadas, formam-se federações. O importante, porém, é manter a participação e aprovação de todas as pessoas envolvidas.
Os anarquistas criticam a forma de governar do parlamentarismo pois a representação corre o risco de entregar o poder à um homem inescrupuloso e hábil, que use as paixões do povo, para sua auto promoção. Quando as decisões abrangem áreas mais amplas são convocadas assembléias, com intuito de nomear delegados que estão sujeitos à revogação de seus cargos. 
Apesar de o anarquismo ser diferente na Europa e Brasil, ele tinha uma mensagem comum nos dois: a liberdade e a igualdade só serão conquistadas com o fim do capitalismo e do Estado que o defende. O anarquismo considerava, assim como o socialismo, que a propriedade privada era o principal problema da sociedade, argumentando que os "recursos naturais da terra" pertencem à todos, ou seja, sua apropriação para uso pessoal é roubo. O sistema capitalista causou o empobrecimento e exploração de muitos para a riqueza e avareza de poucos. Os fortes obrigaram os fracos à servir e em uma luta incessante pela riqueza as diversas nações entraram em guerra. Assim, claramente, podemos perceber que o capitalismo foi criado para atender à necessidade de uma classe dominadora e exploradora e não ao resto da sociedade. 
A socialização da propriedade, unicamente, não pode mudar nada, pois acabar com a propriedade privada sem acabar com o governo burocrático só faria com que se criasse uma classe privilegiada em sua própria preservação. Todas as formas de governo acabam usando de determinada doutrina para "roubar" a liberdade do homem e satisfazer a "casta governante". Todas, usam da repressão policial ou militar para impor a sua vontade diante do povo, e, as leis, de um modo geral, são decretadas pelos poderosos para legitimar sua tirania. Na sociedade capitalista quando os pobres protestam contra os ricos, a polícia e o exército entram em ação; mais tarde estes pobres reprimidos têm de pagar as despesas destes dois órgãos e ainda do judiciário, que servem para dominar os trabalhadores. 
Os anarquistas insistem que os meios de propaganda e educação recebem o apoio e o controle do Estado, para perpetuar os objetivos deste. A religião, é uma importantíssima ferramenta para os burgueses pois pacífica o trabalhador, levando- o a aceitar a miséria sem protestos, induzindo-o a desistir de sua liberdade e aceitar a dominação dos que "roubam" o fruto de seu trabalho. As escolas são usadas para ensinar aos homens a obediência às instituições já formadas; homens são treinados para adorar o seu país, dispondo- se sempre a dar sua vida pelos interesses de sus exploradores. 
Então, somente eliminando o Estado e a propriedade privada é que o homem será totalmente livre, de suas carências, dominação, para desenvolver seu potencial ao máximo. Em uma sociedade anarquista as leis e a violência serão desnecessárias pois os homens livres serão capazes de cooperar para o bem da humanidade. Nessa sociedade, a produção seria feita de acordo com as necessidades da população e não para o enriquecimento de alguns poucos; com o fim das propriedades privadas não haveriam mais assaltos, ninguém iria cobiçar o que é dos outros (pois nada seria dos outros); acabaria a exploração das mulheres, cada um poderia amar à quem quisesse, independentemente de sua classe social e grau de riqueza, sem ser necessário o casamento; não existiria mais a violência e nem as guerras, ninguém mais lutaria por riquezas e não existiria mais o nacionalismo, racismo, carência e competição. 
Se há anarquistas que praticam atentados políticos, não é em função desta sua posição, mas sim uma resposta aos abusos, perseguições e à opressão sofrida por eles. Não são, portanto, atos anarquistas e sim de revolta inevitável por parte dos explorados contra a violência dos altos escalões.
Movimentos Anarquistas

Esta doutrina utópica se organizou primeiro na Rússia, durante a segunda metade do século XIX. No final desse século, o anarquismo na França, Itália, Espanha e Estados Unidos, associou-se ao sindicalismo formando o anarco-sindicalismo. 
Mas, os movimentos sociais dos democratas e comunistas, partidários das idéias Marxistas, derrotaram a proposta revolucionária anarquista internacional. Somente na Espanha ele continuou com uma grande força mas foi destruído em 1936, na guerra civil. 
O mais brilhante dos anarquistas foi indiscutivelmente Bakunin, um filho de ricos aristocratas russos. Tornou-se revolucionário apartir das influências de Proudhon; participou das rebeliões parisienses e praguenses, em 1848 e 1849 respectivamente. Ele foi preso por vários anos e exilado na Sibéria. Quando retornou, em 1870, entrou nas revoltas de Lyon e Bolonha. Fez muitas críticas à Marx, tendo sido expulso da Primeira Internacional em 1872; com vários de seus companheiros ele fundou a Internacional Saint-Imier. 
Além de Bakunin, Proudhon (seu mestre) e Kropotrin, o anarquismo conta com artistas, jornalistas e intelectuais em geral: como Oscar Wilde, George Orwell, Picasso, Emma Goldman, Malatesta e George Woodcock.
Em 1879, após a morte de Bakunin, que era chamado de gênio da destruição, a propaganda anarquista feita por Kropotkine, Reclus, Malatesta e outros, atravessou um novo período de efervescência revolucionaria, pelo menos na parte ativa pensante do proletariado francês. 
O anarquismo, apesar da lei repressiva de 1872, que fez muitas vítimas, alastrava-se de uma maneira espantosa, através da palavra, imprensa e do fato, adquirindo o partido revolucionário, vastas proporções, como ficou visto no conselho de Marselha, onde os operários franceses, em um número enorme, se declaravam pelo anarquismo. Em Lyon, como em outros grandes centros industriais, as idéias libertárias desenvolveram-se largamente, tendo sido, no pequeno período de três meses, publicados 16 periódicos revolucionários e um grande número de folhas soltas. 
Essas propagandas, não poderiam deixar de produzir os seus frutos. Em agosto de 1872 Montecaules- Mines, era um teatro de grandes tumultos revolucionários e a igreja de Bois-du-Verne foi incendiada por meio de dinamites. Em 21 de outubro, uma poderosa bomba explodia no teatro de Bollecour, sendo Civoet, apontado erradamente como autor desse atentado. 
O governo assistia amedrontado o processo rápido das idéias libertárias, assim procurando um pretexto para "sufocar" o movimento que estava tendo os seus triunfos. Em 1883, 66 indivíduos, entre os quais se achava Pedro Kropotkine, preso em Thonon, eram levados ao tribunal de Lyon, acusados de pertencerem a uma organização internacional de "malfeitores". O juri era composto por burgueses covardes e infames, sendo dos 66 acusados 47 condenados a vários anos de prisão, outros expulsos, etc. Este processos foi um dos mais importantes episódio da história revolucionária. 
Em fins do século XIX o movimento sindical fortaleceu intensamente o anarquismo, resultando no movimento chamado anarco-sindicalismo, que enfatizava que os sindicatos deveriam não só brigar por salários mas também se tornar agentes de mudanças sociais. Foi na Espanha que este movimento se tornou mais expressivo, até quando não pôde mais resistir às investidas do exército do ditador Franco. Na Itália e Alemanha, o anarquismo foi instinto pelos movimentos fascista e nazista. 
O anarquismo ressurgiu depois da Segunda Guerra Mundial e se reativou na década de 60 com o ativismo de jovens europeus e americanos, o que resultou no movimento estudantil de 1968, em Paris.
Dez Princípios Anarquistas

1º Autonomia 
Está é a condição indispensável para obter-se a liberdade individual e coletiva. Significa respeito às decisões, vontades e opiniões. 

2º Apoio Mútuo 
É a ajuda entre seres de uma organização social onde as partes interagem, auxiliando-se e fortalecendo-se. Tal pratica não permite disputas que são fundamentais no princípio irracional na superioridade dos seres. É somar forças para alcançar uma melhor qualidade de vida para todos. 

3º Auto Gestão 
É um princípio à comunidade cuidando diretamente de seus próprios deveres e interesses. Deve haver uma liberdade de leis mas com organização. 

4º Internacionalismo 
As fronteiras e nacionalidades só causam guerras. O nacionalismo é um sentimento egoísta e acirra a raiva entre os povos. Defendemos a auto determinação entre os países. 

5º Antimilitarismo 
Os homens que têm maior poder militar rirão. Eles são imperialistas e têm o complexo de hierarquia de poder. Qualquer tipo de imperialismo é inválido. Todos são iguais. Ninguém é melhor que ninguém. 

6º Ação Direta 
Você decide diretamente tudo o que lhe diz respeito. As pessoas são diferentes com costumes diferentes, mas todas tem os mesmos direitos. Quando os movimentos sociais passam a agir e não somente a reagir ao sistema, pacífica ou violentamente, se faz chamar ação direta. 

7º Auto Defesa 
O individuo tem o direito de se defender de qualquer agressão para garantir sua sobrevivência. A liberdade não é negociada, mas sim conquistada. 

8º Viver a Vida 
É necessário encarar a vida por mais cruel que ela seja. Não se muda o mundo de uma hora para outra. Continue vivendo, aproveitando e principalmente lutando por um mundo melhor. 

9º Individualismo 
O sujeito individual é único e não sente necessidade de ajuda. Porém, se necessário, tem o dever de ajudar os outros. 

10º Apartilhadismo 
É preciso ter divisão de bens iguais a todos e não existir propriedade privada. 

http://www.manarquistacomunista.hpg.ig.com.br/governo_e_politica/93/index_int_4.html
Acesso em 15/02/2011

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Todos Contra Nós, Nós Contra Todos!

          

  Nunca como agora se nos deparou a ocasião para demonstrar que no Brasil há anarquistas dispostos a agir com energia e atividade, provando que não nos amedrontam ameaças dos poderosos nem as baixezas vis dos pretendidos amigos que em tempo de paz não hesitariam em aliar-se a nós, se nós aceitássemos conúbios e alianças duvidosas.
            Chegou o momento de sacudir a apatia, de abandonar a indiferença para espalhar as nossas idéias, intensificando o mais possível a nossa propaganda ao mesmo tempo em que nos defendemos dos ataques que de todos os lados partem contra nós.
            A imprensa faz circular a nosso respeito às calúnias mais infamantes e velhacas e incita o governo a agir contra nós enérgica e imediatamente.
            O deputado Alcindo Guanabara, republicano avançado com misturas socialistas, lançou desde as alturas do Parlamento o seu terrível anátema contra nós, dano provas da mais insidiosa má-fé ou de ignorância sobre tudo quanto se refere à Anarquia e aos anarquistas.
            A imprensa pseudo-socialista aproveita a ocasião para nos combater apontando-nos como perigosos e subversivos, instigadores da revolta e pregadores da Revolução Social.
            Todos apontam sobre nós o índex terrível e acusador; os católicos reacionários de uma maneira brutal, descarada, franca e velhaca; os liberais e democratas de um modo hipócrita, canalhesco e repugnante, desvirtuando as nossas idéias, atribuindo-nos procedimentos falsos e indignos. Todos estão de acordo em que o perigo existe e esse perigo são os anarquistas, só os anarquistas.
            Assim vemos o deputado Guanabara, e com ele o Avante, indicando ao governo que a única via de salvação está em fazer uma legislação operária, concedendo reformas para afastar o proletariado das correntes revolucionárias e anarquistas porque enveredou. Isto é, aconselha-se ao governo que procure habilmente enganar mais uma vez os operários fazendo-lhes entrever um horizonte de bem-estar e de liberdade que jamais gozarão porque impossível no estado atual de coisas, procurando assim obstaculizar a marcha da revolução, colocando-lhe na frente travas e engodos, com o que pensam que conseguirão retardar mais algum tempo a derrocada do seu domínio.
            Mas qual a razão desse ódio feroz, dessa guerra de morte contra nós declarada, aberta e brutalmente por uns, insidiosa e hipocritamente por outros?
            Qual a razão?... É muito simples.
            Alcindo Guanabara bem o disse no Parlamento.
            Para nós a obra legislativa dos governos não merece aplausos; ao contrário, exercemos sobre ela a mais acerba crítica. Estamos fartos de panacéias inúteis e inconcludentes. Não queremos mais sofrer as mistificações dos panegiristas da Justiça, da Razão e do Direito, estampados nos papéis da Constituição e sancionados por uma assembléia qualquer.
            Pregamos a não obediência às leis, o desrespeito à propriedade açambarcada e à moral dos hipócritas.
            Procuramos inculcar nos operários o amor pelo estudo a fim de se tornarem homens aptos para se emancipar a si próprios, prescindindo de chefes e guias que até agora os conduziram à ruína e aos mais horríveis precipícios.
            Gritamos constantemente ao trabalhador: Ergue-te, encara de frente e com valentia os teus tiranos, sê homem; conquista o teu bem-estar, mostra com os fatos e não com palavras que a ele tens direito!
            Eis porque todos, desde o católico ao pseudo-socialista, nos apontam com o dedo e descarregam toda a sua bílis, toda a sua cólera cega de sectários contra nós, os anarquistas.
            Pois bem, venham sobre nós todas as culpas, surjam à nossa frente os vilões, os hipócritas e os segregados.
            Não recuaremos um passo. Se todos são contra nós, teremos vontade e energia para enfrentá-los a todos.
            Anarquistas, a postos!
            -Manuel Moscoso

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Jogue intensamente! Nossas vidas estão em jogo! A Prática Anarquista como um Jogo de Subversão por Wolfi Landstreicher


Quando pela primeira vez entrei em contato com as idéias anarquistas nos finais dos anos 70 e pelo começo da década de 80, era um tanto comum falar sobre jogar e o jogo subversivo, graças à influência da Internacional Situacionista e dos melhores aspectos da contracultura. Há muito para ser desenvolvido, nestes termos, do pensamento à prática. Particularmente, penso que olhar a prática anarquista revolucionária como um jogo subversivo é um modo frutífero de entendimento dos objetivos, princípios e metodologia anarquista como uma base para desenvolver nossas estratégias e práticas.
 
O que tem distinguido o anarquismo de outros conceitos de transformação radical é que os anarquistas geralmente têm considerado suas idéias algo para ser vivido aqui e agora o tanto quanto for possível, bem como que os seus objetivos sejam realizados em uma escala global. Enquanto certamente devem existir anarquistas que escolheram transformar suas perspectivas em mera política, a idéia de viver a anarquia imediatamente dá ao anarquismo um alcance que vai muito além dessas visões limitadas, abrindo-o para a totalidade da vida.

Esse aspecto do anarquismo é o que faz a prática anarquista parecer um jogo. Deixe-me explicar. Um jogo pode ser descrito como uma tentativa de conseguir um objetivo especifico usando somente aqueles meios que se adequaram a certas condições aceitas por aqueles envolvidos pelo prazer que encontram em seguir tais condições, mesmo que elas diminuam a eficiência.
O objetivo da prática anarquista seria conseguir um mundo livre de todas as dominações, sem estado, economia ou as várias instituições através das quais nossa atual existência é definida. Eu não posso afirmar saber qual é o modo mais eficiente para conseguir isto. A partir de um ponto de vista anarquista, ainda não houve uma revolução bem sucedida, então não temos modelos de eficiência. Mas, para aqueles que desejam este fim, não por causa de um senso de obrigação moral, mas sim como uma reflexão em uma grande escala do que querem imediatamente, para suas próprias vidas, pequenos cálculos de eficiência para conseguir estes fins são raramente uma prioridade. Eu sei que eu prefiro tentar conseguir este fim de modo que me dê o prazer imediato de tomar de volta minha vida aqui e agora em oposição a ordem social que anseio em destruir.

Aqui é onde os "princípios" anarquistas - as "regras" do jogo - entram. A recusa em escolher mestres, promover leis, negociar com o inimigo, etc. são baseados no desejo de fazer com que nossas vidas sejam de nós mesmos, aqui e agora, jogar este jogo num modo que nos dá alegria imediata. Portanto escolhemos estas "regras" não por causa de um senso de obrigação moral, nem porque são os modos mais eficientes de conseguir nossos objetivos, mas, preferivelmente, pelo prazer que temos em viver nessas condições.

Nesta perspectiva, nós também podemos entender o porquê, na área da concessão, é imposta a nós de modo forçado - o reino da sobrevivência num mundo baseado em relações econômicas, o qual sempre é o oposto à totalidade da vida - nós iremos escolher qualquer método necessário para nos manter vivos. (De qual outra forma poderíamos jogar este jogo?) Mas iremos fazer o que a necessidade nos impõe nesta situação (trabalho, roubo, fraude, etc.) como medidas temporárias para sustentar nossas capacidades de tomar de volta nossas vidas e lutar pelo mundo que desejamos, mantendo nossa rebeldia frente a estas imposições. Isto, de fato, é um aspecto do jogo subversivo na prática, contornando as imposições deste mundo contra ele. Aqui, sinto que seria bom desenhar uma distinção entre o fora-da-lei (criminoso) e o anarquista que esta jogando o jogo da subversão. Obviamente, todo anarquista, 
em algum grau, é um criminoso, desde que rejeitamos a idéia de que nossas atividades poderiam ser determinadas dentro da lei. Mas, a maioria dos criminosos não estão jogando o jogo da subversão. Ao invés disso eles estão, centrados no muito mais  imediato jogo de passar a perna nas forças da ordem sem procurar destruí-las.
Para o anarquista revolucionário criminoso, este jogo imediato é simplesmente uma pequena parte de um jogo muito maior. Ele está fazendo um empreendimento muito maior do que o do "crime" imediato. Ele está agarrando sua vida no lugar de usar o crime para agarrar o mundo.

Portanto, este jogo combina o objetivo de destruir a ordem dominante para que possamos construir um mundo livre de toda dominação com o desejo de termos nossas vidas aqui e agora, criando isto o tanto quanto for possível em nossas próprias condições. Isto aponta para uma metodologia da prática, uma série de recursos que refletem o nosso desejo imediato de viver nossas vidas de nossa própria maneira. Esta metodologia pode ser resumida como se segue:

1- Ação direta- Atuar por nós mesmos por aquilo que nós desejamos no lugar de delegar o agir para um representante.
2- Autonomia - Recusar em delegar a tomada de decisões a qualquer corpo organizacional; organizações serviriam apenas como coordenação de atividades em projetos e conflitos específicos.
3- Conflito permanente - Batalha continua pelos nossos objetivos, sem nenhuma concessão.
4- Ataque - A não mediação, pacificação ou sacrifício; a não limitação de nós mesmos a uma mera defesa ou resistência, e sim almejar a destruição do inimigo.
Esta metodologia reflete o objetivo ultimo e o desejo imediato da prática anarquista revolucionária.

Porém, se estamos considerando esta prática como um jogo, é necessário entender que tipo de jogo é este. Nós não estamos lidando com um jogo no qual dois ou mais oponentes estão competindo entre si num esforço de conseguir o mesmo objetivo. Em tal jogo, existe lugar para a negociação e concessão. Ao contrario disto, o jogo subversivo é um conflito entre dois objetivos absolutamente opostos, o objetivo de dominar tudo e o objetivo de colocar um fim a dominação. No final das contas, a única maneira que este jogo poderia ser ganho é através de um lado destruir completamente o outro. Portanto, não há lugar para concessões ou negociações , especialmente não para os anarquistas que estão claramente em posição de fraqueza onde a "concessão" poderia ser , de fato, deixar esmagar.

Os objetivos, princípios, metodologia e o entendimento da natureza da batalha juntos, descreve o jogo anarquista revolucionário. Assim, como qualquer jogo, é a partir de suas bases que vamos desenvolver táticas e estratégias. Sem essas bases, falar de estratégias e táticas é apenas falar. Enquanto táticas é algo sobre o que conversamos em contextos onde se deve decidir quais movimentos se deve fazer em pontos específicos, é possível falar de estratégia de um modo mais generalizado. Estratégia é a questão de como conseguir um objetivo.

Isto requer uma compreensão de vários fatores. Primeiramente qual é o contexto no qual se está tentando conseguir estas metas? Que relação os objetivos têm com o contexto? Quais meios estão disponíveis para conseguir estes objetivos? Quem poderia agir como cúmplice neste esforço?
Estas questões assumem uma interessante mudança para os anarquistas, porque nosso objetivo (a erradicação de todas as dominações) não é algo que queremos para um futuro distante. Sem ser bons cristãos, não estamos interessados em nos sacrificar para as futuras gerações. Mais propriamente, nós queremos experimentar este objetivo imediatamente em nossas vidas e em nossas batalhas contra a ordem dominante. Portanto, precisamos examinar estas questões nas condições desses duplos aspectos de nossas metas.

A questão do contexto envolve a analise do amplo contexto global, a natureza das instituições dominantes, as amplas tendências que são desenvolvidas e os potenciais pontos de fraqueza e áreas de rupturas da ordem dominante. Isto também envolve examinar o contexto imediato de nossas vidas, nossas relações e encontros voluntários e involuntários, o terreno que no momento estamos atravessando, nossos projetos imediatos e por ai vai.

O relacionamento entre o que estamos empenhados e o contexto geral desta ordem social é parte do conflito Total. Porque nós estamos empenhados não apenas na destruição da dominação, mas também estamos empenhados em viver imediatamente contra a dominação, nós somos inimigos desta ordem.

Já que parte de nossos objetivos é ter o controle der volta de nossas vidas aqui e agora, nossos meios precisam incorporar isto. Em outras palavras, qualquer meio que envolve renunciar o controle de nossas é prontamente uma derrota. Mas isto é onde se torna necessário distinguir quais atividades constituem uma renúncia (votar, demandas, petições, negociar com o inimigo) e aquilo que poder ser incorporado na reapropriação da vida e atacar contra as instituições de dominação (como por exemplo trabalho temporário, certos tipos de golpes, etc. que dão acesso a certos recursos, informações e habilidades que são úteis numa prática subversiva).

Nosso cúmplice pode ser qualquer pessoa, indiferente se esta pessoa tem uma consciência anarquista critica ou não,  que use meios que correspondem aos nossos em suas batalhas especificas contra o que o domina e oprime - meios através dos quais estão ativamente controlando suas vidas e lutas como suas prontamente. E nossa cumplicidade duraria enquanto eles utilizassem tais meios, e terminaria no momento que eles abrissem mão de sua autonomia ou começassem a negociar com os dominantes. Tendo estabelecido estas bases, aqui estão algumas áreas para discussão de estratégias:

Sobrevivência vs. a totalidade da vida - estratégias para aniquilar continuamente o domínio da sobrevivência sobre nossas vidas, para fazer nossos projetos e desejos determinarem como nós lidamos com a sobrevivência o máximo possível - por exemplo: quando alguém precisa de um emprego, usar isto contra a instituição do Trabalho e Economia através da expropriação, desviar e doar coisas, sabotar, usando isto como uma escola livre para captar técnicas para seu projeto, sempre vendo isto como um meio temporário para os seus objetivos e estando preparado para sair assim que desejar.

Solidariedade - Existem dois aspectos distintos sobre isto. 1- Existem muitas explosões de conflito social que refletem parcialmente o desejo de retomar a vida de volta e destruir a dominação, e que usa uma metodologia como a que foi descrita acima, mas sem uma critica total consciente da parte dos participantes. Como podemos conectar nossa consciência e o conflito continuo com a ordem dominante com  estas explosões de conflito numa maneira que combine com nossos objetivos, "princípios" e metodologia, já que o evangelismo e a "liderança moral" batem de frente com estes "princípios" nos tornando em fantoches de uma causa que estamos defendendo?  Precisamos pensar em termos de cumplicidade e honestidade. 2- Há também os momentos quando o inimigo apanha algum companheiro e cúmplice e o aprisiona. Existe um habito, nesta situação, de cair em uma estrutura de suporte/trabalho social/caridade. Em termos de nossos objetivos e desejos, eu penso que isto é um grande erro. Sem negar a necessidade em construir fundos de segurança e manter comunicação aberta, a nossa questão primordial é como tornar esta situação em uma maneira de atacar a ordem dominante. As atividades anti-prisão do grupo francês Os Cangaceiros¹ nos oferecem alguns nutrientes para pensarmos nisso.

Rupturas diárias, em pequena escala - Existem eventos que acontecem diariamente numa pequena escala que causam rupturas temporárias na rotina social. Como podemos então usar esta subversidade contra esta ordem, expor a realidade desta sociedade e abrir outras possibilidades? Como podemos criar tais rupturas numa maneira que destrua a submissão e a aceitação da normalidade?

Rupturas de larga escala - Desastres, revoltas, levantes locais e regionais todos causam rupturas que podem revelar um grande evento na ordem dominante e que move as pessoas para a auto-atividade, generosidade e uma rejeição temporária da ordem moral desta sociedade. Como podemos aproveitar tais situações de maneira conveniente? O que podemos fazer para ajudar a estender a compreensão e a rejeição da ordem moral para além do momento? Como podemos expor os vários políticos e burocratas da ruptura - partidos políticos, lideranças sindicais, militantes e ativistas - sem passar por cima como mais um desse meio parasita? 

Portanto, há um jogo vasto e desafiante diante de nós, o qual eu acredito que poderia transformar nossas vidas em algo maravilhoso. É um jogo que nós devemos jogar intensamente, pois neste jogo nossas vidas estão em jogo. Não há garantias nem métodos certos para ganhar. Mas para cada um de nós, como individuo existe um modo infalível de perder. Que é de fato ceder, se submeter ao que esta ordem dominante impõem. Quem está pronto para jogar?

 Publicado na Green Anarchy #23

Notas: 1- Os Cangaceiros foram um grupo de revolucionários franceses que emergiram das revoltas dos estudantes, trabalhadores e das ocupações em maio de 1968 na França. Reivindicavam o "fim  da política". Não tinham estrutura formal, era um  coletivo formado por desejos individuais. Viviam de forma nômade criando vários squats e usavam o "crime contra o  capital". Como suas ações os levavam frequentemente à ilegalidade e muitas vezes a cadeia, compreenderam a importância dessas estruturas, com o tempo suas ações foram concentradas contra as prisões, usando sabotagem contra as prisões e contra as construções de futuras prisões, roubo de projetos de novas prisões e o incentivo de rebeliões e  destruição das prisões. (N.d.t.)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A ilusão do sufrágio universal - Mikhail Bakunin






Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal garantia a liberdade dos povos. Mas infelizmente esta era uma grande ilusão e a compreensão da ilusão, em muitos lugares, levou à queda e à desmoralização do partido radical. Os radicais não queriam enganar o povo, pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios foram enganados. Eles estavam firmemente convencidos quando prometeram ao povo a liberdade através do sufrágio universal. Inspirados por essa convicção, eles puderam sublevar as massas e derrubar os governos aristocráticos estabelecidos. Hoje depois de aprender com a experiência, e com a política do poder, os radicais perderam a fé em si mesmos e em seus princípios derrotados e corruptos. Mas tudo parecia tão natural e tão simples: uma vez que os poderes legislativo e executivo emanavam diretamente de uma eleição popular, não se tornariam a pura expressão da vontade popular e não produziriam a liberdade e o bem estar entre a população? Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode representar a verdadeira vontade do povo. Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização política se destina à negação da liberdade. Estes são os desejos básicos do povo. Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametricamente opostos porestarem numa posição excepcional.

Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções, atingida uma certa elevação de posto, vêem a sociedade da mesma forma que um professor vê seus alunos, e entre o professor e os alunos não há igualdade. De um lado, há o sentimento de superioridade, inevitavelmente provocado pela posição de superioridade que decorre da superioridade do professor, exercite ele o poder legislativo ou executivo. Quem fala de poder político, fala de dominação. Quando existe dominação, uma grande parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam os que dominam, enquanto estes não têm outra escolha, a não ser subjugar e oprimir aqueles que dominam. Esta é a eterna história do saber, desde que o poder surgiu no mundo. Isto é, o que também explica como e porque os democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos se tornam os conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder. Tais retratações são geralmente consideradas atos de traição, mas isto é um erro. A causa principal é apenas a mudança de posição e, portanto, de perspectiva. Na suíça, assim como em outros lugares, a classe governante é completamente diferente e separada da massa dos governados. Aqui, apesar da constituição política ser igualitária, é a burguesia que governa, e é o povo, operários e camponeses, que obedecem suas leis. O povo não tem tempo livre ou educação necessária para se ocupar do governo. Já que a burguesia tem
ambos, ela tem de ato, se não por direito, privilégio exclusivo. Portanto, na Suíça, como em outros países a igualdade política é apenas uma ficção pueril, uma mentira. Separada como está do povo, por circunstâncias sociais e econômicas, como pode a burguesia expressar, nas leis e no governo, os sentimentos, as idéias, e
a vontade do povo? É possível, e a experiência diária prova isto. Na legislação e no governo, a burguesia é dirigida principalmente por seus próprios interesses e preconceitos, sem levar em conta os interesses do povo. É verdade que todos os nossos legisladores, assim como todos os membros dos governos cantonais são eleitos, direta ou indiretamente, pelo povo. É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo, oprimido pelo trabalho e
ignorante da maioria dos problemas, supervisione as ações de seus representantes? Na realidade, o controle exercido pelos eleitores aos seus representantes eleitos é pura ficção, já que no sistema representativo, o
controle popular é apenas uma garantia da liberdade do povo, é evidente que tal liberdade não é mais do que ficção.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Anarquismo: Fins e Meios



Uma das forças históricas do anarquismo tem sido sua insistência na conexão entre fins e meios. Os anarquistas insistem que os objetivos libertários não serão alcançados por meios autoritários e, de maneira mais geral, estão atentos para os rumos dos compromissos assumidos no campo dos métodos políticos, que podem nos corromper ou influenciar nossos objetivos. Algumas vezes, no entanto, isso conduziu a uma equação por demais simplista entre nossos meios e nossos fins. Os anarquistas freqüentemente falham ao formular, particularmente, a questão política de como os nossos métodos relacionam-se com os nossos objetivos. Um exemplo disso é a alegação pacifista "Se todos se recusassem a lutar, não existiriam guerras". Nessas circunstâncias, isso é uma completa verdade, de fato, repetidamente assim. Porém, o pacifismo não sai desse truísmo. 

Isso não significa que a melhor maneira de prevenir as guerras é fazer um compromisso individual para recusar a lutar. A conexão entre as nossas ações e o objetivo de um mundo pacífico é política. Ela é política, pois envolve os processos do conjunto completo de poder e das relações econômicas que estruturam nossas tomadas de decisão pessoais e sociais. Para que nossas atividades tenham o efeito desejado, elas precisam ser endossadas por outros e, quer ela aconteça ou não, isso irá depender de um conjunto completo de fatores políticos e econômi- 
cos. Não é totalmente óbvio que a nossa recusa em lutar irá motivar um número suficiente de outras pessoas a fazer isso e, dessa maneira, tornar a guerra impossível (de fato, isso parece bastante improvável). A melhor maneira de evitarmos as guerras deve ser o ataque aos sistemas sociais e às injustiças que as produzem. Isso pode, até mesmo, incluir termos de combater. De maneira mais geral, para que nossos meios sejam apropriados aos fins que buscamos, precisamos ser capazes de relatar, de maneira real, como exatamente nossas atividades apontarão para nossos objetivos. Isso deverá considerar as realidades políticas e econômicas que afetam as nossas vidas. Muitas vezes, não é real acreditar que todos em nossa volta seguirão o nosso exemplo. 

As melhores formas de política anarquista evitam essas formas de perigosas utopias e oferecem às pessoas uma esperança verdadeira e um eventual sucesso em sua luta por um mundo melhor. A ação direta é um componente crucial desse tipo de política. 

Extraído do livro: Política Anarquista e Ação Direta de Rob Sparrow





O Movimento Anarquista Brasileiro Na Primeira República (1889-1930)


Dificuldades teóricas

Historicamente, há uma certa tendência, tanto dentro do Brasil quanto fora dele, em identificar os defensores do anarquismo como terroristas, agitadores ou desordeiros.  Muito desse preconceito ainda vivo, pode ser explicado em parte pela perturbação que qualquer doutrina de lógica extremada provoca na mente de indivíduos inseguros. Mas enfim, no que consiste um anarquista? Na tentativa de definir de uma forma simples sem ser reducionista, Sebastien Faure ressalta que “todo aquele que contesta a autoridade e luta contra ela é um anarquista”.


Já a origem da palavra anarquismo tem suas raízes no grego. A soma de archon, que significa governante, e o prefixo an, que indica sem, formam a idéia central de “sem governante”. Portanto, anarquia significa estar ou viver sem governo, e pode ser usada tanto para expressar a condição negativa da falta dele, ou da condição positiva dele (o governo) não existir.



Como ressalva, devemos lembrar que a inexistência de estruturas formais no movimento anarquista, dificulta qualquer tentativa de traçar um perfil desse grupo no Brasil. No plano teórico trataremos os anarquistas como aqueles que recusam a participação política e a luta pelo domínio do Estado, vias que apenas instaurariam outras relações de poder. [1]





A chegada das idéias anarquistas



A independência política do Brasil em 1822, o fim do tráfico de escravos em 1850, e abolição da escravatura em 1888, juntamente com a acumulação de capital gerada pela cafeicultura, iriam possibilitar a lenta e gradual modernização da sociedade brasileira, que transformaria a sociedade rural e escravocrata em uma sociedade urbana e industrial.



No fim do século XIX, a imigração européia passou a desempenhar um papel fundamental na formação social brasileira.[2] Desde 1850 a produção cafeeira, em larga expansão, utilizou-se de estrangeiros para o trabalho na lavoura em detrimento da mão-de-obra escrava, pressionada profundamente pelos agentes internacionais.



A política imigrantista tornou-se, com o tempo, uma dos instrumentos para a derrubada do poder monárquico em 1889, tido como arcaico em relação ao resto da América Latina. Concomitante a esse processo, o Brasil ajustou-se paulatinamente à conjuntura internacional, e um operariado incipiente começou a despontar nos centros urbanos mais dinâmicos do país. Nos portos brasileiros, italianos, russos, alemães e espanhóis, trouxeram na bagagem, além do desejo de ascenderem socialmente, novas idéias para a organização da sociedade, estando entre elas o(s) anarquismo(s).



No Brasil, que acabara de passar por uma reorganização no aparelho de Estado, tiveram início as mais variadas tentativas de colocar o país no caminho da estabilidade política. Como salienta Alexandre Samis, o termo anarquismo servia desde então para associar imagens negativas aos inimigos da ordem (ou da República), repetindo o que já havia ocorrido durante a Revolução Francesa. [3]





Individualidades e atuação coletiva



Entre os indivíduos anarquistas que chegaram da Europa, alguns se destacaram pela sua atuação mais efetiva como Artur Campagnoli. Este chegou a São Paulo em 1888, comprou uma área de terra considerada improdutiva e fundou a Colônia de Guararema, com ajuda de russos, franceses, espanhóis, italianos (a maioria) e nas décadas de 20 e 30 teve a colaboração de brasileiros.



Dois anos mais tarde veio o engenheiro agrônomo Giovanni Rossi e cerca de 200 imigrantes da Itália, em duas levas, para fundar a Colônia Cecília no Paraná. Esta experiência ácrata resistiu de 1890 a 1894. Os anarquistas concentrados, uns na lavoura, outros em empreitadas contratadas junto ao governo para a construção da estrada de rodagem Serrinha-Santa Bárbara, recebiam salários semanais que auxiliavam os companheiros da Colônia. Moradias, escolas e estradas faziam parte da organização interna que funcionava a partir de uma assembléia. Quando a assembléia precisou delegar responsabilidades a alguém para gerir todo o dinheiro do núcleo, criou um estrato que seria, mais tarde, responsável em grande parte pelo fracasso da experiência. Assim mesmo, a vitalidade da colônia assustou as autoridades, que começaram a enxergá-la como um grande perigo à ordem.



O governo republicano, então, passou a acusar os anarquistas de terem se apossado de terras mais férteis, ameaçando-os de expulsão e prisão. A partir daí, alguns colonos começaram a desistir. Uma epidemia ocasionou a morte de sete anarquistas. Para ajudar, um homem de origem argentina que se dizia anarquista, chamado José Goriga, obteve a confiança dos colonos e assumiu a responsabilidade pelos fundos comunais obtidos com a venda do milho. Posteriormente, fugiu com todo o dinheiro e com o arquivo da Colônia, complicando a situação da comunidade que veio a se desintegrar totalmente em 1894. A colônia Cecília representiu historicamente a primeira grande marca da presença anarquista no Brasil.



Outra figura relativamente importante foi o alemão Frederico Kniestedt (1873-1947) que no ano de 1914 chegou em definitivo a Porto Alegre, onde desenvolveu atividade anarquista e antifascista até à sua morte. Participou também da Federação Operária do Rio Grande do Sul, militando entre os sindicalistas revolucionários.



No Rio Grande do Sul, o russo Elias Iltchenco aparece como um dos fundadores de uma outra colônia formada por russos e ucranianos que mesclava elementos anarquistas e que se estabeleceu na região de Erebango (atual Getúlio Vargas). Escrevendo sobre esses imigrantes, Edgar Rodrigues registrou a situação: "Por volta de 1909, anúncios republicanos chegavam à Ucrânia. Já então ninguém se recordava ali do sofrimento que as primeiras levas de imigrantes tiveram pela frente ao desembarcar por aqui, em 1878. E novamente acreditaram nas promessas de uma vida paradisíaca no Brasil. Vinte famílias de camponeses ucranianos venderam tudo o que tinham e para cá embarcaram, com escala em Londres. Com eles viajava Elias Iltchenco".[4]



Já na colônia, a luta pela sobrevivência promoveu uma riquíssima experiência de apoio mútuo e solidariedade humana entre as famílias dos trabalhadores. Os mais hábeis cumpriam as mais diversas tarefas dentre as quais cultivava-se a terra, plantava-se e colhia-se tendo em vista a distribuição da prosperidade. Politicamente, a atividade conjunta fez surgir, em 1918, alguns organismos libertários importantes, como a União dos Trabalhadores Rurais Russos do Brasil, sediada em Erechim.



Ossep Stefanovetch, anarquista oriundo da colônia gaúcha, ficou conhecido pela sua atuação cultural tanto no teatro, passando por ator nas peças libertárias, como na música, utilizando seu domínio sobre o violino. No seu círculo de amizades apareceu um militante genuinamente brasileiro chamado José Oiticica, intelectual carioca que contribuiu para a fundação do Partido Comunista de inspiração libertária em 1919.



Entretanto, talvez o indivíduo de maior reconhecimento na história do anarquismo no Brasil talvez tenha sido Domingos Passos. Natural do Rio de Janeiro, tendo nascido, provavelmente, na última década do século XIX, sua trajetória militante esteve em grande parte ligada à sua organização de classe, a União dos Operários em Construcção Civil (UOCC), fundada como União Geral da Construcção Civil (UGCC) em abril de 1917 (a UGCC havia sido, na verdade fundada em 1915, mas teve existência breve).



Atravessou o Brasil de norte a sul, divulgando ideais anarquistas, e sendo reprimido e preso em vários momentos pela polícia dos estados. Não foi à toa que Domingos Passos ganhou de seus contemporâneos a alcunha de “Bakunin Brasileiro”. Poucos como ele se entregaram de tal forma ao ideal e sofreram tanto as conseqüências dessa dedicação à luta pela emancipação dos homens e mulheres. Durante apenas uma década, em grande parte passada nas prisões e nas selvas tropicais, Passos tornou-se a grande referência de militância libertária e social de seu tempo. [5]




Formas de organização



Com o passar do tempo, as ações operárias promovidas por socialistas e anarquistas vão se espalhando no Brasil. Os três congressos operários brasileiros (1906, 1913 e 1920) afirmaram as reivindicações essenciais dos trabalhadores que se situavam em torno do aumento da participação social, da crítica ao capitalismo vigente e da redução da jornada de trabalho para oito horas.



Os meios para se atingir os objetivos é que se diferenciaram até mesmo entre os próprios anarquistas. No Brasil, os libertários estiveram historicamente atrelados aos sindicatos. Analisando um documento do Coletivo Domingos Passos, fica visível que a particularidade do anarquismo está por ele ser o referencial do qual se parte para a ação. No caso da relação entre anarquismo e sindicalismo, o documento define:




O Anarquismo sindicalista - Encontra no Sindicalismo Revolucionário uma forma dos trabalhadores assumirem o controle direto da revolução social e sobre a produção. Surge na França, da cisão dos sindicatos revolucionários com os sindicatos reformistas, na última década do século XIX. Impulsiona o Movimento Operário Internacional, com forte presença em quase todos os países da Europa, da América e da Oceania, além de organizar fortemente a luta operária em outros continentes. Representa o auge do movimento operário combativo em todo o mundo.[6]




No que tange às diferenças entre os anarquistas e os socialistas, uma delas pode ser observada nas próprias palavras de Oiticica: “O anarquismo não visa apenas a emancipar os trabalhadores, pretende emancipar os homens”, criticando obviamente a difusão das idéias de Marx no Brasil, muito bem lembrada no estudo de Leandro Konder.[7]  A já referida Silvia Petersen salientou a questão do partido político. Os socialistas consideram a luta partidária uma das vias para a derrubada da sociedade capitalista, mas ao tratar os anarquistas no Brasil ela os caracteriza da seguinte forma: “a vertente sindicalista do anarquismo considerava que o sindicato e suas lutas de caráter econômico [grifo nosso], seriam as experiências fundantes da futura sociedade ácrata [...]”. [8]



Consoante com nossos estudos, entendemos que ações concretas do movimento anarquista como um todo, desarticulam tal tese reducionista. Relativo a isso cabe salientar que, por mais que os sindicatos definissem em seus estatutos orientações no sentido estritamente econômico, é dos seus componentes que advém o apoio para a fundação de escolas livres, universidades populares (como a do Rio de Janeiro, em 1904), grupos de teatro social, bibliotecas comunitárias e inclusive para lutas na modificação na gramática portuguesa, para adaptá-la ao linguajar do operariado. Em segundo lugar, a sede dos sindicatos serviam para uma intensa propaganda educativa, sociológica, de cultura geral, e discussões teóricas sobre os rumos da ação direta. Portanto, conceituar os sindicatos como via para lutas de caráter econômico é, no mínimo, problemático.



Ainda no plano das ações, muitas organizações operárias surgiram no Rio Grande do Sul (FORGS), no Rio de Janeiro (FORJ), no Paraná (FOP), em Pernambuco (Federação de resistência dos Trabalhadores Pernambucanos), no Ceará (União Geral dos Trabalhadores), em Alagoas (Federação Operária de Alagoas), em Minas Gerais (Federação Operária Mineira), entre outras, apontando para o surto de industrialização no país.





Greves, cultura e repressão



Além das organizações culturais e proletárias, a atuação prática contra os capitalistas se fez de modo muito intenso. Greves, boicotes, sabotagens fizeram parte do espectro de lutas proletárias.



Entre as mais marcantes greves, destaca-se a de 1906 no Rio Grande do Sul, que ressaltou a ascensão dos anarquistas na recém-fundada Federação Operária do Rio Grande do Sul. O estado, até 1905 estava sob hegemonia dos socialistas. A greve em si durou 21 dias (de 3 a 21 de outubro) e reivindicou a jornada de 8 horas. A mobilização girou em torno de 3000 operários que se dividiram entre fabricantes de móveis, de fios tecidos, de doces, de vidros, de chapéus, entre outros. Os industriais propuseram 9 horas e a greve foi perdendo força até o fim de outubro.



É possível destacar também o papel das mulheres na greve em Porto Alegre, a partir do jornal Correio do Povo, de 11 de outubro de 1906 no seguinte trecho: “[...] e o número de mulheres operárias é enorme, e sobre elas, principalmente procuraram e conseguiram exercer influência e domínio os promotores da campanha”. A partir de um livro de Margareth Rago, se pode perceber que a condição de opressão da mulher era teorizada por inúmeros pensadores de caráter libertário, apesar de certas contradições no campo prático.[9]



Em 1917 o movimento grevista se espalhou pelo Brasil. A carestia, os baixos salários e a violência contra os operários foram alguns dos motivos. Em São Paulo, uma multidão de mais de 10 000 pessoas presenciaram o enterro de José Martinez, operário assassinado em julho pela polícia paulista. Alguns aumentos e a jornada de 8 horas foram implantadas em algumas fábricas. Mas a violência do processo, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, associou ainda mais a figura do anarquismo à do criminoso inimigo da ordem. A extradição dos elementos “perigosos”, que foi acelerada neste momento, era  comum desde 1894, como é possível observar num documento do Ministério da Justiça e Negócios Interiores do governo Brasileiro:





Anarchistas - Tendo chegado ao conhecimento da policia que na Gavea se estava constituindo uma associação formada, em sua maioria, de individuos estrangeiros que faziam propaganda entre os operários [...]; apprehendeu-se nessa occasião diversos jornaes anarchistas [...] cujos primeiros artigos eram verdadeiros gritos de guerra contra o capital. [...] Esses individuos, sobremodo perigosos, foram expulsos do territorio brasileiro, seguindo uns para a Hespanha, e outros para o Rio da Prata.[10]




A partir disso se pode perceber que a “questão social era caso de polícia”, há muito tempo no país.



Uma outra característica fundamental do movimento ácrata foi a extensa produção de material impresso. Jornais como A Pátria (RJ), A Vida (RJ), A Luta (RS), O Libertário (SP), O Despertar (RJ), A Plebe (SP), Voz do Povo (PE), Vanguarda (SP), A Lanterna (SP), e revistas como Kurtur (RJ), Renascença (SP), Remodelações (RJ) e Revista Liberal (RS) remontam à numerosa atuação dos anarquistas no âmbito da divulgação de suas idéias. No campo da literatura ainda aparecem, Edgar Leunroth, Fábio Luz (autor dos livros “Os emancipados” e “O ideólogo”, 1906) e especialmente Lima Barreto.



Em qualquer livro de teoria da história que se preze, a idéia de que as condições temporais em que o indivíduo está inserido, interferem na sua forma de ver o mundo, é básica. No caso do final do século XIX, a influência de correntes teóricas prestigiadas pela ideologia das classes burguesas, como o evolucionismo, o positivismo e o cientificismo, teve relativa importância. Os intelectuais brasileiros daquela época eram levados à supervalorizar as possibilidades da ciência (englobadas numa única “Ciência”, mitificada), desprezando tudo aquilo que não pudesse passar pelo crivo da mesma. A fé na ciência trazia a confiança que faltava a todos no sentido de que se daria um fim a sofrida humanidade e se criasse, enfim, um mundo melhor. Exatamente contra isso, Afonso Henrique de Lima Barreto foi um intelectual que não se maravilhou com a Ciência, e via com reservas a idéia de Civilização. Seus escritos podem ser conferidos no jornal A Lanterna e na revista Vida, e o seu inconformismo com relação ao que via recaía principalmente sobre e caráter elitista de todas as sociedades. Seus pensamentos não foram ocasionais.





A decadência do movimento




Diferente de Lima Barreto, havia os “radicais de ocasião” como, por exemplo, os  intelectuais boêmios, que apregoavam um discurso de esquerda mas não ultrapassavam os limites da retórica. Outros “anarquistas” declararam guerra ao Estado, mas perceberam que só conseguiriam avançar exigindo conquistas a partir dele. Casos como estes foram se tornando comum por dois fatores essenciais. Com o aumento do número de greves e manifestações operárias, a legislação brasileira foi sendo modificada e se tornando cada vez mais repressora em relação à atuação dos operários. Em 1907, Adolfo Gordo aprovou a lei de expulsão dos “perigosos à ordem pública”, sendo esta lei reeditada em vários anos seguintes. O tenentismo apavorou ainda mais o governo central, que não pensou duas vezes em combater a tudo e a todos com a violência de Estado.



Até o fim da República Velha e início do período varguista, a causa anarquista esteve presente. Confrontos como os da Praça da Sé, em 1934, contra os integralistas de Plínio Salgado, marcaram a contribuição dos libertários para o retrocesso do fascismo no Brasil. A falta de partidos anarquistas foi enfraquecendo gradualmente a ação libertária. Muitos passaram a atuar no novo Partido Comunista Brasileiro, fundado por ex-anarquistas em 1922. Um outro elemento que pesava contra os anarquistas foi a vitória dos bolcheviques na Revolução Russa de 1917. O entusiasmo comunista tomou conta de grande parte do proletariado brasileiro, que viu na revolução dos sovietes, um exemplo concreto de mudança social.



De qualquer modo, a pujança que o movimento atingiu no Brasil pode ser simbolizada pela ação opressora e sanguinária do governo em relação à colônia de Cleveland, que em sua origem foi definida como uma colônia no Estado do Pará, e ficou conhecida como Clevelândia. Ela nasceu durante a presidência de Arthur Bernardes (1922-26), período em que o país estava quase sempre em estado de sítio - situação sob a qual os cidadãos perdem suas liberdades formais -, e vivia uma repressão violentíssima em nome da "ordem pública", ameaçada, segundo o governo, pelas greves abusivas, levantes, e atos de grupos descontentes com os rumos da economia. Políticos, lideranças operárias, setores insubordinados das forças armadas, além de milhares de suspeitos de conspiração contra o governo, foram deportados, presos, isolados em suas ilhas. Samis aponta que “no Rio de Janeiro, para escapar dos advogados e seus hábeas corpus, salvaguarda da liberdade individual de seus clientes, o governo fez das ilhas de Bom Jesus, Rasa, e das Flores, verdadeiros campos de prisioneiros”.



Em suma, o avanço das premissas comunistas de Marx, a perda de poder dos sindicatos e o alto teor repressivo fizeram os anarquistas perder grande parte de sua expressividade entre o operariado.  Certamente, a partir do que foi exposto aqui, pôde-se observar que a presença libertária no Brasil durante o fim do século XIX e começo do XX marcou profundamente a ascensão de um movimento operário que se acostumou até hoje, na prática, a resistir a toda e qualquer forma de opressão do santíssimo Estado que nos governa.



Como diria o pensador anarquista Jean Proudhon: “Ser governado é ser cuidado, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, identificado, doutrinado, aconselhado, controlado, avaliado, pesado, censurado, e mandado por homens que não têm nem o direito, nem os conhecimentos, nem valor para fazê-lo”.





Referências Bibliográficas


COLETIVO DOMINGOS PASSOS. Correntes do Anarquismo. Disponível em: < www.anarquismo.org. > Acesso em: 30. mai. 2005.

COLOMBO, Eduardo. História do Movimento Operário Revolucionário. São Paulo/São Caetano do Sul: Imaginário/IMES, 2004.

FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs). O tempo do liberalismo excludente: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

KONDER, Leandro. A derrota da dialética. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

OHLWEILER, Otto Alcides. Materialismo histórico e crise contemporânea. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.

PETTERSEN, Sìlvia Regina Ferraz. “Que a União Operária seja nossa Pátria”: história das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações. Santa Maria: Editora UFSM; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001.

PROUDHON, Pierre Joseph. A propriedade é um roubo e outros escritos anarquistas. Porto Alegre, L&PM, 1998.

RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinada: Brasil – 1890/1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

RAMOS, Renato; SAMIS, Alexandre. Domingos Passos: o “Bakunin brasileiro”. Rio de Janeiro. FARJ. Disponível em: < http://ainfos.ca>. 10. março. 2005. Acesso em: 31. mai. 2005.

RODRIGUES, Edgar. A comunidade livre de Erebango. in: Libertários no Brasil: Memória, Lutas, Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.

WOODCOCK, George. História das idéias e movimentos anarquistas. Vol. 1. A idéia. Porto Alegre: L&PM, 2002.

WOODCOCK, George. Os grandes escritos anarquistas. Porto Alegre: L&PM, 1986.

Notas

[1] PETTERSEN, Sìlvia Regina Ferraz. “Que a União Operária seja nossa Pátria”: história das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações. Santa Maria: Editora UFSM; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001. p. 138.

[2] Quando falamos em formação social, entendemos essa como expressão da totalidade das diferentes esferas da vida da sociedade.

[3] SAMIS, Alexandre. Pavilhão Negro sobre Pátria Oliva: Sindicalismo e Anarquismo no Brasil. In: História do Movimento Operário Revolucionário. São Paulo/São Caetano do Sul: Imaginário,/IMES, 2004, p. 127.

[4] RODRIGUES, Edgar. A comunidade livre de Erebango. in: Libertários no Brasil: Memória, Lutas, Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 27.

[5] RAMOS, Renato; SAMIS, Alexandre. Domingos Passos: o “Bakunin brasileiro”. Rio de Janeiro. FARJ. Disponível em: < http://ainfos.ca>. 10. março. 2005. Acesso em: 31. mai. 2005.

[6] COLETIVO DOMINGOS PASSOS. Correntes do Anarquismo. Disponível em: < www.anarquismo.org. > Acesso em: 30. mai. 2005.

[7] Sobre isso, ver: KONDER, Leandro. A difusão das idéias de Marx nos anos de difusão da hegemonia anarquista. in: A derrota da dialética. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

[8] PETERSEN. op. cit. p. 148.

[9] Cf. RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinada: Brasil – 1890/1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985, p. 96.

[10] Justiça e negócios interiores 1893 e 1894. p.59.


André Vinicius Mossate Jobim - Perfil do Autor:
Formado em História. Atualmente cursa pós-graduação em História do Brasil na Universidade Federal de Santa Maria, debruçando-se mais especificamente nos estudos sobre história do trabalho no Rio Grande do Sul.