O ANARQUISTA

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Anarquismo: Fins e Meios



Uma das forças históricas do anarquismo tem sido sua insistência na conexão entre fins e meios. Os anarquistas insistem que os objetivos libertários não serão alcançados por meios autoritários e, de maneira mais geral, estão atentos para os rumos dos compromissos assumidos no campo dos métodos políticos, que podem nos corromper ou influenciar nossos objetivos. Algumas vezes, no entanto, isso conduziu a uma equação por demais simplista entre nossos meios e nossos fins. Os anarquistas freqüentemente falham ao formular, particularmente, a questão política de como os nossos métodos relacionam-se com os nossos objetivos. Um exemplo disso é a alegação pacifista "Se todos se recusassem a lutar, não existiriam guerras". Nessas circunstâncias, isso é uma completa verdade, de fato, repetidamente assim. Porém, o pacifismo não sai desse truísmo. 

Isso não significa que a melhor maneira de prevenir as guerras é fazer um compromisso individual para recusar a lutar. A conexão entre as nossas ações e o objetivo de um mundo pacífico é política. Ela é política, pois envolve os processos do conjunto completo de poder e das relações econômicas que estruturam nossas tomadas de decisão pessoais e sociais. Para que nossas atividades tenham o efeito desejado, elas precisam ser endossadas por outros e, quer ela aconteça ou não, isso irá depender de um conjunto completo de fatores políticos e econômi- 
cos. Não é totalmente óbvio que a nossa recusa em lutar irá motivar um número suficiente de outras pessoas a fazer isso e, dessa maneira, tornar a guerra impossível (de fato, isso parece bastante improvável). A melhor maneira de evitarmos as guerras deve ser o ataque aos sistemas sociais e às injustiças que as produzem. Isso pode, até mesmo, incluir termos de combater. De maneira mais geral, para que nossos meios sejam apropriados aos fins que buscamos, precisamos ser capazes de relatar, de maneira real, como exatamente nossas atividades apontarão para nossos objetivos. Isso deverá considerar as realidades políticas e econômicas que afetam as nossas vidas. Muitas vezes, não é real acreditar que todos em nossa volta seguirão o nosso exemplo. 

As melhores formas de política anarquista evitam essas formas de perigosas utopias e oferecem às pessoas uma esperança verdadeira e um eventual sucesso em sua luta por um mundo melhor. A ação direta é um componente crucial desse tipo de política. 

Extraído do livro: Política Anarquista e Ação Direta de Rob Sparrow





O Movimento Anarquista Brasileiro Na Primeira República (1889-1930)


Dificuldades teóricas

Historicamente, há uma certa tendência, tanto dentro do Brasil quanto fora dele, em identificar os defensores do anarquismo como terroristas, agitadores ou desordeiros.  Muito desse preconceito ainda vivo, pode ser explicado em parte pela perturbação que qualquer doutrina de lógica extremada provoca na mente de indivíduos inseguros. Mas enfim, no que consiste um anarquista? Na tentativa de definir de uma forma simples sem ser reducionista, Sebastien Faure ressalta que “todo aquele que contesta a autoridade e luta contra ela é um anarquista”.


Já a origem da palavra anarquismo tem suas raízes no grego. A soma de archon, que significa governante, e o prefixo an, que indica sem, formam a idéia central de “sem governante”. Portanto, anarquia significa estar ou viver sem governo, e pode ser usada tanto para expressar a condição negativa da falta dele, ou da condição positiva dele (o governo) não existir.



Como ressalva, devemos lembrar que a inexistência de estruturas formais no movimento anarquista, dificulta qualquer tentativa de traçar um perfil desse grupo no Brasil. No plano teórico trataremos os anarquistas como aqueles que recusam a participação política e a luta pelo domínio do Estado, vias que apenas instaurariam outras relações de poder. [1]





A chegada das idéias anarquistas



A independência política do Brasil em 1822, o fim do tráfico de escravos em 1850, e abolição da escravatura em 1888, juntamente com a acumulação de capital gerada pela cafeicultura, iriam possibilitar a lenta e gradual modernização da sociedade brasileira, que transformaria a sociedade rural e escravocrata em uma sociedade urbana e industrial.



No fim do século XIX, a imigração européia passou a desempenhar um papel fundamental na formação social brasileira.[2] Desde 1850 a produção cafeeira, em larga expansão, utilizou-se de estrangeiros para o trabalho na lavoura em detrimento da mão-de-obra escrava, pressionada profundamente pelos agentes internacionais.



A política imigrantista tornou-se, com o tempo, uma dos instrumentos para a derrubada do poder monárquico em 1889, tido como arcaico em relação ao resto da América Latina. Concomitante a esse processo, o Brasil ajustou-se paulatinamente à conjuntura internacional, e um operariado incipiente começou a despontar nos centros urbanos mais dinâmicos do país. Nos portos brasileiros, italianos, russos, alemães e espanhóis, trouxeram na bagagem, além do desejo de ascenderem socialmente, novas idéias para a organização da sociedade, estando entre elas o(s) anarquismo(s).



No Brasil, que acabara de passar por uma reorganização no aparelho de Estado, tiveram início as mais variadas tentativas de colocar o país no caminho da estabilidade política. Como salienta Alexandre Samis, o termo anarquismo servia desde então para associar imagens negativas aos inimigos da ordem (ou da República), repetindo o que já havia ocorrido durante a Revolução Francesa. [3]





Individualidades e atuação coletiva



Entre os indivíduos anarquistas que chegaram da Europa, alguns se destacaram pela sua atuação mais efetiva como Artur Campagnoli. Este chegou a São Paulo em 1888, comprou uma área de terra considerada improdutiva e fundou a Colônia de Guararema, com ajuda de russos, franceses, espanhóis, italianos (a maioria) e nas décadas de 20 e 30 teve a colaboração de brasileiros.



Dois anos mais tarde veio o engenheiro agrônomo Giovanni Rossi e cerca de 200 imigrantes da Itália, em duas levas, para fundar a Colônia Cecília no Paraná. Esta experiência ácrata resistiu de 1890 a 1894. Os anarquistas concentrados, uns na lavoura, outros em empreitadas contratadas junto ao governo para a construção da estrada de rodagem Serrinha-Santa Bárbara, recebiam salários semanais que auxiliavam os companheiros da Colônia. Moradias, escolas e estradas faziam parte da organização interna que funcionava a partir de uma assembléia. Quando a assembléia precisou delegar responsabilidades a alguém para gerir todo o dinheiro do núcleo, criou um estrato que seria, mais tarde, responsável em grande parte pelo fracasso da experiência. Assim mesmo, a vitalidade da colônia assustou as autoridades, que começaram a enxergá-la como um grande perigo à ordem.



O governo republicano, então, passou a acusar os anarquistas de terem se apossado de terras mais férteis, ameaçando-os de expulsão e prisão. A partir daí, alguns colonos começaram a desistir. Uma epidemia ocasionou a morte de sete anarquistas. Para ajudar, um homem de origem argentina que se dizia anarquista, chamado José Goriga, obteve a confiança dos colonos e assumiu a responsabilidade pelos fundos comunais obtidos com a venda do milho. Posteriormente, fugiu com todo o dinheiro e com o arquivo da Colônia, complicando a situação da comunidade que veio a se desintegrar totalmente em 1894. A colônia Cecília representiu historicamente a primeira grande marca da presença anarquista no Brasil.



Outra figura relativamente importante foi o alemão Frederico Kniestedt (1873-1947) que no ano de 1914 chegou em definitivo a Porto Alegre, onde desenvolveu atividade anarquista e antifascista até à sua morte. Participou também da Federação Operária do Rio Grande do Sul, militando entre os sindicalistas revolucionários.



No Rio Grande do Sul, o russo Elias Iltchenco aparece como um dos fundadores de uma outra colônia formada por russos e ucranianos que mesclava elementos anarquistas e que se estabeleceu na região de Erebango (atual Getúlio Vargas). Escrevendo sobre esses imigrantes, Edgar Rodrigues registrou a situação: "Por volta de 1909, anúncios republicanos chegavam à Ucrânia. Já então ninguém se recordava ali do sofrimento que as primeiras levas de imigrantes tiveram pela frente ao desembarcar por aqui, em 1878. E novamente acreditaram nas promessas de uma vida paradisíaca no Brasil. Vinte famílias de camponeses ucranianos venderam tudo o que tinham e para cá embarcaram, com escala em Londres. Com eles viajava Elias Iltchenco".[4]



Já na colônia, a luta pela sobrevivência promoveu uma riquíssima experiência de apoio mútuo e solidariedade humana entre as famílias dos trabalhadores. Os mais hábeis cumpriam as mais diversas tarefas dentre as quais cultivava-se a terra, plantava-se e colhia-se tendo em vista a distribuição da prosperidade. Politicamente, a atividade conjunta fez surgir, em 1918, alguns organismos libertários importantes, como a União dos Trabalhadores Rurais Russos do Brasil, sediada em Erechim.



Ossep Stefanovetch, anarquista oriundo da colônia gaúcha, ficou conhecido pela sua atuação cultural tanto no teatro, passando por ator nas peças libertárias, como na música, utilizando seu domínio sobre o violino. No seu círculo de amizades apareceu um militante genuinamente brasileiro chamado José Oiticica, intelectual carioca que contribuiu para a fundação do Partido Comunista de inspiração libertária em 1919.



Entretanto, talvez o indivíduo de maior reconhecimento na história do anarquismo no Brasil talvez tenha sido Domingos Passos. Natural do Rio de Janeiro, tendo nascido, provavelmente, na última década do século XIX, sua trajetória militante esteve em grande parte ligada à sua organização de classe, a União dos Operários em Construcção Civil (UOCC), fundada como União Geral da Construcção Civil (UGCC) em abril de 1917 (a UGCC havia sido, na verdade fundada em 1915, mas teve existência breve).



Atravessou o Brasil de norte a sul, divulgando ideais anarquistas, e sendo reprimido e preso em vários momentos pela polícia dos estados. Não foi à toa que Domingos Passos ganhou de seus contemporâneos a alcunha de “Bakunin Brasileiro”. Poucos como ele se entregaram de tal forma ao ideal e sofreram tanto as conseqüências dessa dedicação à luta pela emancipação dos homens e mulheres. Durante apenas uma década, em grande parte passada nas prisões e nas selvas tropicais, Passos tornou-se a grande referência de militância libertária e social de seu tempo. [5]




Formas de organização



Com o passar do tempo, as ações operárias promovidas por socialistas e anarquistas vão se espalhando no Brasil. Os três congressos operários brasileiros (1906, 1913 e 1920) afirmaram as reivindicações essenciais dos trabalhadores que se situavam em torno do aumento da participação social, da crítica ao capitalismo vigente e da redução da jornada de trabalho para oito horas.



Os meios para se atingir os objetivos é que se diferenciaram até mesmo entre os próprios anarquistas. No Brasil, os libertários estiveram historicamente atrelados aos sindicatos. Analisando um documento do Coletivo Domingos Passos, fica visível que a particularidade do anarquismo está por ele ser o referencial do qual se parte para a ação. No caso da relação entre anarquismo e sindicalismo, o documento define:




O Anarquismo sindicalista - Encontra no Sindicalismo Revolucionário uma forma dos trabalhadores assumirem o controle direto da revolução social e sobre a produção. Surge na França, da cisão dos sindicatos revolucionários com os sindicatos reformistas, na última década do século XIX. Impulsiona o Movimento Operário Internacional, com forte presença em quase todos os países da Europa, da América e da Oceania, além de organizar fortemente a luta operária em outros continentes. Representa o auge do movimento operário combativo em todo o mundo.[6]




No que tange às diferenças entre os anarquistas e os socialistas, uma delas pode ser observada nas próprias palavras de Oiticica: “O anarquismo não visa apenas a emancipar os trabalhadores, pretende emancipar os homens”, criticando obviamente a difusão das idéias de Marx no Brasil, muito bem lembrada no estudo de Leandro Konder.[7]  A já referida Silvia Petersen salientou a questão do partido político. Os socialistas consideram a luta partidária uma das vias para a derrubada da sociedade capitalista, mas ao tratar os anarquistas no Brasil ela os caracteriza da seguinte forma: “a vertente sindicalista do anarquismo considerava que o sindicato e suas lutas de caráter econômico [grifo nosso], seriam as experiências fundantes da futura sociedade ácrata [...]”. [8]



Consoante com nossos estudos, entendemos que ações concretas do movimento anarquista como um todo, desarticulam tal tese reducionista. Relativo a isso cabe salientar que, por mais que os sindicatos definissem em seus estatutos orientações no sentido estritamente econômico, é dos seus componentes que advém o apoio para a fundação de escolas livres, universidades populares (como a do Rio de Janeiro, em 1904), grupos de teatro social, bibliotecas comunitárias e inclusive para lutas na modificação na gramática portuguesa, para adaptá-la ao linguajar do operariado. Em segundo lugar, a sede dos sindicatos serviam para uma intensa propaganda educativa, sociológica, de cultura geral, e discussões teóricas sobre os rumos da ação direta. Portanto, conceituar os sindicatos como via para lutas de caráter econômico é, no mínimo, problemático.



Ainda no plano das ações, muitas organizações operárias surgiram no Rio Grande do Sul (FORGS), no Rio de Janeiro (FORJ), no Paraná (FOP), em Pernambuco (Federação de resistência dos Trabalhadores Pernambucanos), no Ceará (União Geral dos Trabalhadores), em Alagoas (Federação Operária de Alagoas), em Minas Gerais (Federação Operária Mineira), entre outras, apontando para o surto de industrialização no país.





Greves, cultura e repressão



Além das organizações culturais e proletárias, a atuação prática contra os capitalistas se fez de modo muito intenso. Greves, boicotes, sabotagens fizeram parte do espectro de lutas proletárias.



Entre as mais marcantes greves, destaca-se a de 1906 no Rio Grande do Sul, que ressaltou a ascensão dos anarquistas na recém-fundada Federação Operária do Rio Grande do Sul. O estado, até 1905 estava sob hegemonia dos socialistas. A greve em si durou 21 dias (de 3 a 21 de outubro) e reivindicou a jornada de 8 horas. A mobilização girou em torno de 3000 operários que se dividiram entre fabricantes de móveis, de fios tecidos, de doces, de vidros, de chapéus, entre outros. Os industriais propuseram 9 horas e a greve foi perdendo força até o fim de outubro.



É possível destacar também o papel das mulheres na greve em Porto Alegre, a partir do jornal Correio do Povo, de 11 de outubro de 1906 no seguinte trecho: “[...] e o número de mulheres operárias é enorme, e sobre elas, principalmente procuraram e conseguiram exercer influência e domínio os promotores da campanha”. A partir de um livro de Margareth Rago, se pode perceber que a condição de opressão da mulher era teorizada por inúmeros pensadores de caráter libertário, apesar de certas contradições no campo prático.[9]



Em 1917 o movimento grevista se espalhou pelo Brasil. A carestia, os baixos salários e a violência contra os operários foram alguns dos motivos. Em São Paulo, uma multidão de mais de 10 000 pessoas presenciaram o enterro de José Martinez, operário assassinado em julho pela polícia paulista. Alguns aumentos e a jornada de 8 horas foram implantadas em algumas fábricas. Mas a violência do processo, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, associou ainda mais a figura do anarquismo à do criminoso inimigo da ordem. A extradição dos elementos “perigosos”, que foi acelerada neste momento, era  comum desde 1894, como é possível observar num documento do Ministério da Justiça e Negócios Interiores do governo Brasileiro:





Anarchistas - Tendo chegado ao conhecimento da policia que na Gavea se estava constituindo uma associação formada, em sua maioria, de individuos estrangeiros que faziam propaganda entre os operários [...]; apprehendeu-se nessa occasião diversos jornaes anarchistas [...] cujos primeiros artigos eram verdadeiros gritos de guerra contra o capital. [...] Esses individuos, sobremodo perigosos, foram expulsos do territorio brasileiro, seguindo uns para a Hespanha, e outros para o Rio da Prata.[10]




A partir disso se pode perceber que a “questão social era caso de polícia”, há muito tempo no país.



Uma outra característica fundamental do movimento ácrata foi a extensa produção de material impresso. Jornais como A Pátria (RJ), A Vida (RJ), A Luta (RS), O Libertário (SP), O Despertar (RJ), A Plebe (SP), Voz do Povo (PE), Vanguarda (SP), A Lanterna (SP), e revistas como Kurtur (RJ), Renascença (SP), Remodelações (RJ) e Revista Liberal (RS) remontam à numerosa atuação dos anarquistas no âmbito da divulgação de suas idéias. No campo da literatura ainda aparecem, Edgar Leunroth, Fábio Luz (autor dos livros “Os emancipados” e “O ideólogo”, 1906) e especialmente Lima Barreto.



Em qualquer livro de teoria da história que se preze, a idéia de que as condições temporais em que o indivíduo está inserido, interferem na sua forma de ver o mundo, é básica. No caso do final do século XIX, a influência de correntes teóricas prestigiadas pela ideologia das classes burguesas, como o evolucionismo, o positivismo e o cientificismo, teve relativa importância. Os intelectuais brasileiros daquela época eram levados à supervalorizar as possibilidades da ciência (englobadas numa única “Ciência”, mitificada), desprezando tudo aquilo que não pudesse passar pelo crivo da mesma. A fé na ciência trazia a confiança que faltava a todos no sentido de que se daria um fim a sofrida humanidade e se criasse, enfim, um mundo melhor. Exatamente contra isso, Afonso Henrique de Lima Barreto foi um intelectual que não se maravilhou com a Ciência, e via com reservas a idéia de Civilização. Seus escritos podem ser conferidos no jornal A Lanterna e na revista Vida, e o seu inconformismo com relação ao que via recaía principalmente sobre e caráter elitista de todas as sociedades. Seus pensamentos não foram ocasionais.





A decadência do movimento




Diferente de Lima Barreto, havia os “radicais de ocasião” como, por exemplo, os  intelectuais boêmios, que apregoavam um discurso de esquerda mas não ultrapassavam os limites da retórica. Outros “anarquistas” declararam guerra ao Estado, mas perceberam que só conseguiriam avançar exigindo conquistas a partir dele. Casos como estes foram se tornando comum por dois fatores essenciais. Com o aumento do número de greves e manifestações operárias, a legislação brasileira foi sendo modificada e se tornando cada vez mais repressora em relação à atuação dos operários. Em 1907, Adolfo Gordo aprovou a lei de expulsão dos “perigosos à ordem pública”, sendo esta lei reeditada em vários anos seguintes. O tenentismo apavorou ainda mais o governo central, que não pensou duas vezes em combater a tudo e a todos com a violência de Estado.



Até o fim da República Velha e início do período varguista, a causa anarquista esteve presente. Confrontos como os da Praça da Sé, em 1934, contra os integralistas de Plínio Salgado, marcaram a contribuição dos libertários para o retrocesso do fascismo no Brasil. A falta de partidos anarquistas foi enfraquecendo gradualmente a ação libertária. Muitos passaram a atuar no novo Partido Comunista Brasileiro, fundado por ex-anarquistas em 1922. Um outro elemento que pesava contra os anarquistas foi a vitória dos bolcheviques na Revolução Russa de 1917. O entusiasmo comunista tomou conta de grande parte do proletariado brasileiro, que viu na revolução dos sovietes, um exemplo concreto de mudança social.



De qualquer modo, a pujança que o movimento atingiu no Brasil pode ser simbolizada pela ação opressora e sanguinária do governo em relação à colônia de Cleveland, que em sua origem foi definida como uma colônia no Estado do Pará, e ficou conhecida como Clevelândia. Ela nasceu durante a presidência de Arthur Bernardes (1922-26), período em que o país estava quase sempre em estado de sítio - situação sob a qual os cidadãos perdem suas liberdades formais -, e vivia uma repressão violentíssima em nome da "ordem pública", ameaçada, segundo o governo, pelas greves abusivas, levantes, e atos de grupos descontentes com os rumos da economia. Políticos, lideranças operárias, setores insubordinados das forças armadas, além de milhares de suspeitos de conspiração contra o governo, foram deportados, presos, isolados em suas ilhas. Samis aponta que “no Rio de Janeiro, para escapar dos advogados e seus hábeas corpus, salvaguarda da liberdade individual de seus clientes, o governo fez das ilhas de Bom Jesus, Rasa, e das Flores, verdadeiros campos de prisioneiros”.



Em suma, o avanço das premissas comunistas de Marx, a perda de poder dos sindicatos e o alto teor repressivo fizeram os anarquistas perder grande parte de sua expressividade entre o operariado.  Certamente, a partir do que foi exposto aqui, pôde-se observar que a presença libertária no Brasil durante o fim do século XIX e começo do XX marcou profundamente a ascensão de um movimento operário que se acostumou até hoje, na prática, a resistir a toda e qualquer forma de opressão do santíssimo Estado que nos governa.



Como diria o pensador anarquista Jean Proudhon: “Ser governado é ser cuidado, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, identificado, doutrinado, aconselhado, controlado, avaliado, pesado, censurado, e mandado por homens que não têm nem o direito, nem os conhecimentos, nem valor para fazê-lo”.





Referências Bibliográficas


COLETIVO DOMINGOS PASSOS. Correntes do Anarquismo. Disponível em: < www.anarquismo.org. > Acesso em: 30. mai. 2005.

COLOMBO, Eduardo. História do Movimento Operário Revolucionário. São Paulo/São Caetano do Sul: Imaginário/IMES, 2004.

FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs). O tempo do liberalismo excludente: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

KONDER, Leandro. A derrota da dialética. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

OHLWEILER, Otto Alcides. Materialismo histórico e crise contemporânea. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.

PETTERSEN, Sìlvia Regina Ferraz. “Que a União Operária seja nossa Pátria”: história das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações. Santa Maria: Editora UFSM; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001.

PROUDHON, Pierre Joseph. A propriedade é um roubo e outros escritos anarquistas. Porto Alegre, L&PM, 1998.

RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinada: Brasil – 1890/1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

RAMOS, Renato; SAMIS, Alexandre. Domingos Passos: o “Bakunin brasileiro”. Rio de Janeiro. FARJ. Disponível em: < http://ainfos.ca>. 10. março. 2005. Acesso em: 31. mai. 2005.

RODRIGUES, Edgar. A comunidade livre de Erebango. in: Libertários no Brasil: Memória, Lutas, Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.

WOODCOCK, George. História das idéias e movimentos anarquistas. Vol. 1. A idéia. Porto Alegre: L&PM, 2002.

WOODCOCK, George. Os grandes escritos anarquistas. Porto Alegre: L&PM, 1986.

Notas

[1] PETTERSEN, Sìlvia Regina Ferraz. “Que a União Operária seja nossa Pátria”: história das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações. Santa Maria: Editora UFSM; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001. p. 138.

[2] Quando falamos em formação social, entendemos essa como expressão da totalidade das diferentes esferas da vida da sociedade.

[3] SAMIS, Alexandre. Pavilhão Negro sobre Pátria Oliva: Sindicalismo e Anarquismo no Brasil. In: História do Movimento Operário Revolucionário. São Paulo/São Caetano do Sul: Imaginário,/IMES, 2004, p. 127.

[4] RODRIGUES, Edgar. A comunidade livre de Erebango. in: Libertários no Brasil: Memória, Lutas, Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 27.

[5] RAMOS, Renato; SAMIS, Alexandre. Domingos Passos: o “Bakunin brasileiro”. Rio de Janeiro. FARJ. Disponível em: < http://ainfos.ca>. 10. março. 2005. Acesso em: 31. mai. 2005.

[6] COLETIVO DOMINGOS PASSOS. Correntes do Anarquismo. Disponível em: < www.anarquismo.org. > Acesso em: 30. mai. 2005.

[7] Sobre isso, ver: KONDER, Leandro. A difusão das idéias de Marx nos anos de difusão da hegemonia anarquista. in: A derrota da dialética. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

[8] PETERSEN. op. cit. p. 148.

[9] Cf. RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinada: Brasil – 1890/1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985, p. 96.

[10] Justiça e negócios interiores 1893 e 1894. p.59.


André Vinicius Mossate Jobim - Perfil do Autor:
Formado em História. Atualmente cursa pós-graduação em História do Brasil na Universidade Federal de Santa Maria, debruçando-se mais especificamente nos estudos sobre história do trabalho no Rio Grande do Sul.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma Introdução a Anarquia

Talvez você seja anarquista e nunca soube disso.

Uma breve e acessível introdução as idéias e práticas anarquistas. 
(nota: este panfleto não tem a intenção de definir e delimitar o que é a anarquia. Este panfleto não é um manifesto anarquista, muito menos representa a opinião dos anarquistas em geral, é uma tentativa de compartilhar as perpectivas e a luta anarquista entre todos aqueles interessados em fazer deste mundo um lugar melhor).

                                               
Indice: 

Algumas palavras sobre Anarquia 
O Problema do Estado 
E a Democracia? 
Anarquismo e história 
Religião, espiritualidade e anarquia 
Civilização e Capitalismo 
Contra as Sociedades de Massas 
Biocentrismo vs Antropocentrismo 
Patriarquismo 
Anti-militarismo 
Anti-Nacionalismo 
Crítica da Tecnologia 
Contra o Industrialismo 
Contra o Roubo da vida - Contra o trabalho 
Contra a Paralisia de Nossas Capacidades - Contra a Escola 
Anarquia é Incompativel com Reformismos 
Não se separa pensamento da prática 
Revoluções Diárias ? Autonomia 
Auto-Defesa, Ação Direta e Insurreição 
Autonomia da luta - Cultura de Segurança - Solidariedade Revolucionária 
Algumas últimas palavras 
informações extras 



Algumas palavras sobre Anarquia: 

- A anarquia é uma existência livre de qualquer forma ou prática de dominação. 

- Anarquia basicamente significa "sem governo", porém não significa apenas a ausênsia e a rejeição de governo, significa também a rejeição de qualquer forma de hierarquia, dominação, poder e autoridade.
 

- A anarquia foi basicamente o modo de vida na qual a humanidade viveu durante a maior parte de sua existência ( cerca de 99% da história humana ).
 
A cerca de dez mil anos atrás, grupos humanos começaram a trocar uma existência livre e em comunhão com a natureza por uma existência tóxica, infeliz, opressiva, violenta e alienada. Este modo de vida baseado no sedentarismo, na agricultura intensiva, na domesticação de animais e da natureza, na opressão da mulher, na divisão de trabalho, na hierarquia, no controle e exploração dos individuos e comunidades começou a se espalhar pelo mundo, um modo de vida que tem se espalhado pelo mundo até hoje. O capitalismo tecnológico é a atual manifestação desse modo de vida, uma modo de vida que está levando o planeta e seus habitantes à destruição.
 

- O anarquismo ou os anarquistas não oferecem nenhuma utopia ou ideal de sociedade. O anarquismo almeja uma existência livre de autoridades, governos e em harmonia com a natureza. Vários caminhos para uma existência livre, que se manifesta em diversas formas, podem ser tomados. A diversidade das formas, das iniciativas e da construção de uma existência anarquista é de extrema importância.
 

- Uma existência livre de obrigações sem sentido e tarefas que não nos interessam; livre de pessoas que nos dizem o que fazer, como e quando fazer; uma existência onde cada indivíduo seja honrado e respeitado; onde não precisamos sacrificar nossas vidas como fazemos hoje por necessidades básicas como moradia e alimento; uma existência onde podemos conviver com aqueles que amamos e sentimos afinidades; uma existência onde possamos desenvolover nossas habilidades; uma existência onde as crianças possam se desenvolver livremente como individuos plenos e completos que são; uma existencia onde sejamos capazes de cuidar de nós mesmos e onde as decisões sejam tomadas por todos, respeitando as necessidades individuais e capacidades de cada um; uma existência que no lugar da competição pratiquemos o apoio mútuo, um existência onde todas as pessoas tenham acesso aos recursos para uma vida plena e saúdavel; uma existencia saudável que respeite todas as formas de vida e o planeta.
 
Se você compartilha conosco esses desejos, talvez você seja um anarquista e nunca soube disso?
 


Mas os anarquistas não são a favor da desordem ? 

Os anarquistas durante muito tempo foram difamados como meros atiradores de bombas e promotores do caos. Foram difamados pelos formadores de opiniões (jornais, revistas, escolas, partidos ) e por aqueles que detem o poder ao afirmarem que a sociedade que os anarquistas desejavam, sem nenhum governo, sem autoridades, seria um campo de guerra, um caos generalisado, com fome , genocídio, violência e extrema desordem. Porém são estas as caracteristicas de todas as sociedades baseadas em governos, na autoridade, na hierarquia e na domesticação. É exatamente esta a situação que vivenciamos no mundo hoje nas mãos dos politicos e poderosos que são defendidos pelos formadores de opinião que acusam os anarquistas de desordeiros e propagadores do caos. É exatamente esta situação que caracteriza uma sociedade com governo e autoridades. Um exemplo é a guerra em nome da democracia que deixou o Iraque arrazado, com milhares de pessoas mortas!
 
E é nisso que os anarquistas querem dar um fim, querem dar um fim a esta existência tóxica, violenta e doentia.
 
Os anarquistas constróem e lutam por uma existência totalmente oposta a esta que vivemos atualmente. uma sociedade onde não exista abismos entre as pessoas, onde não exista uma separação entre o ser humano e a natureza, uma sociedade onde compartilhamos a terra e seus recursos com todos os seus habitantes. Uma existência livre de dominações e exploração. Uma existência saudável e plena.
 



Anarquia é uma idéia maravilhosa, mas nunca funcionou e provavelmente nunca funcionará! 

- A resposta que podemos dar para aqueles que fazem esta afirmação pode ser a seguinte: A anarquia da certo, a anarquia sempre deu certo e foi o melhor modo de viver que os seres humanos experimentaram (até o surgimento da civilização, a dez mil anos atras, a humanidade viveu 99% de sua existência num modo de vida que podemos chamar 'anarquia primitiva' ou 'anarquia original'). O que não da certo para a humanidade é uma existência baseada na propriedade privada, no controle do Estado sobre a vida das pessoas e na domesticação da vida.
 
Uma existência baseada nestas instituições resulta na realidade doentia que vivenciamos hoje, uma existência vazia.
 
Romper com este sistema e buscarmos uma existência anarquista que identifique e recuse toda forma de dominação é algo saudável e extremamente necessário.
 

A anarquismo, em poucas palavras, é a luta contra todas as formas de dominações e a construção de uma existência livre e prazeroza.
 
Todo obstáculo para a existência de uma vida livre devem ser destruídos.
 
No entanto, existem temas e questões fundamentais para os anarquistas, que devem ser discutidas, denunciadas, combatidas e praticadas.
 
A seguir apresentaremos algumas dessas questões que os anarquistas em geral consideram de grande importância.
 


O Problema do Estado 

A palavra"anarquia"como foi dito anteriormente significa 'ausência de governos', e um dos principais objetivos dos anarquistas é a destruição de qualquer instituição que exerça poder sobre a as pessoas, e que rouba das pessoas a capacidade de cuidar delas mesmas e de suas comunidades de forma direta. Uma dessas instituições é o Estado (governos).
 
O Estado se desenvolve, estende seu dominio e se propaga de uma maneira tão sistematica e totalitária que as pessoas acabam não conseguindo imaginar a vida humana sem o estado. Consideram o Estado como algo natural, uma solução humana.
 
O Estado é toda estrutura que exerce o governo, o poder e o controle sobre as pessoas e comunidades.
 
As suas formas, estruturas e métodos de exercer controle e poder são muito variados, porém todos mantém a sua caracteristica natural de coerção, manipulação e controle.
 
O Estado pode ser explicitamente autoritário (ditaduras 'comunistas', ditaduras fascistas, monarquias, teocracias etc) ou então pode usar termos e conceitos que o fazem parecer realmente feitos para o bem comum, termos como: 'democracia', 'poder popular', 'orçamento participativo', 'municipalismo', 'democracia direta', 'comunismo de conselho', etc.
 
O Estado também pode se manifestar de maneiras mais simples e em sociedade menores, até mesmo em sociedades tribais numerosas. O Estado surge quando a esfera das decisões que afetam todos os individuos e a comunidade não são mais tomadas face a face ou em consenso envolvendo toda a comunidade e aqueles que seriam afetados por tais decisões. O Estado se forma quando as decisões são tomadas por agrupamentos especificos de pessoas com a função de administrar e decidir.
 
O Estado rouba e controla a comunidade para seu próprio benefício e interesse daqueles que possuem seu controle. Ou seja, o estado trabalha para garantir sua própria existência e a existência previlegiada daqueles que detem o poder.
 
O Estado estabelece uma ordem social que não é natural, uma organização humana que não é de fato 'humana', pois o surgimento do Estado não foi uma escolha da humanidade como um todo.
 
O Estado acaba então impedindo que as pessoas se organizem de forma autônoma, espontânea, igualitária, e em contato com a biorregião em que vivem, uma vez que o Estado possue o controle dos recursos naturais e manipula as interações das comunidades.
 
O Estado impede as pessoas de vivenciarem uma comunidade real.
 
Uma sociedade com Estado não é uma sociedade ' verdadeira' . Pode-se dizer que uma sociedade com Estado é uma sociedade doente, parasitada.
 


E a Democracia? 

Termos como 'democracia' foram extremamente difundidos como sinômino de participação e poder de decisão das pessoas. Nada mais falso.
 
Bob Black, um anarquista norte americano, afirma que "se 'democracia' significasse pessoas terem controle de suas próprias vidas , então os anarquistas seriam os únicos democratas verdadeiros". Mas 'democracia' de maneira alguma significa "pessoas cuidando de suas vidas". O filósofo frances Rousseau escreveu que na democracia as pessoas são livres apenas no momento do voto, no resto do tempo as pessoas são escravas dos governos( uma opinião bem moderada por sinal).
 
Delegar a outras pessoas o poder de controlar e de decidir as nossas vidas nao é de maneira alguma algo inteligente a se fazer, pois o mesmo governo que elegemos, nos piores dos casos, pode decidir colaborar com uma guerra e muito possívelmente voce não concordaria que seu filho ou mesmo você fosse para uma guerra (matar outras pessoas que nem você e seu filho), sem dizer que esta guerra com certeza não representaria seus intereses ( a não ser que você seja um capitalista que lucraria muito com a guerra, ou um estadista que teria seu poder extendido a outra regiões e populações). Vale lembrar que certamente existem maneiras melhores de resolvermos nossas divergências do que declarar uma guerra!
 
Em outros casos mais comuns os governos e pessoas eleitas democraticamente podem tomar decisões que não agradam certas pessoas ou certos grupos de pessoas, e numa democracia não existem mecanismos para a recusa das decisões governamentais ou então para a manifestação efetiva de seus descontentamentos, os descontentes terão que esperar a proxima eleição.
 
O sentido que é atribuido a palavra 'democracia' como sistema de governo onde temos opção de escolha é algo muito deturpado e mal explicado. Nossas vidas acontecem aqui e agora, elas mudam inesperadamente, as situações e problemas que enfrentamos como individuos e como comunidade surgem a todo momento, não faz sentido optarmos pelo destino de nossas vidas de tempos em tempos. Nossa vida é aqui e agora, temos que cuidar dela todo o dia.
 
Muitas vezes certas decisões devem ser tomadas imediatamente, outras questões maiores podem e devem ser debatidas, e maneiras diferentes de lidar com certas questões e problemas podem surgir.
 
Os anarquistas possuem muitas idéias sobre como as decisões podem ser feitas numa sociedade verdadeiramente cooperativa e voluntária. A maioria dos anarquistas (principalmente os anarquistas-verdes) acreditam que as comunidades locais devam ser pequenas o suficientes para que as pessoas se conheçam, ou ao menos onde as pessoas possam compartilhar laços familares, de amizade, opinião ou interesse com todas as pessoas. E devido ser uma comunidade local, as pessoas dividiriam conhecimentos em comum sobre suas comunidades e seus ambientes. As pessoas saberiam que conviveriam com as consequências de suas escolhas e decisões. Diferentemente dos burocratas e políticos, coordenadores e dirigentes, que vivem aparte da vida da comunidade e decidem a vida de e para as outras pessoas.
 

"Qualquer pessoa que decida organizar a minha vida por mim nunca podera ser meu camarada."
 
Alfredo Bonanno - O prazer Armado 




Anarquismo e história 

A luta por uma existência livre e plena, onde cuidamos de nós mesmos e vivemos de acordo com nossos desejos e ansiedades, em outras palavras, a luta por uma existência anarquista, existe a partir do momento em que a liberdade dos individuos e a auto determinação das comunidades é roubada. A luta pela anarquia, é então tão antiga quanto a própria civilização. Porém, o termo "anarquista" , ou "anarquismo", só foi adotado e desenvolvido recentemente como resultado das lutas sociais que surgiram com a revolução industrial. Mas as revoltas, levantes e projetos com elementos anarquistas podem ser encontrados ao longo de toda a história humana após o surgimento da civilização. A revolta dos anabatistas na alemanha de 1523 contra toda autoridade religiosa e admisnitrativa, no Brasil os africanos escravizados que se rebelaram e fugiram construindo comunidades ("quilombos") onde estabeleciam uma vida comunal; povos indigenas no mundo todo em luta contra os colonizadores; estes são alguns exemplos de luta por uma existência anarquista. Mesmo que não usassem o termo 'anarquista', princípios e elementos anarquistas são encontrados nestes exemplos. Um animal que ao ser aprisionado luta com todas as suas forças e ferocidade contra seu opressor, está em luta pela sua existência livre, ou seja, pela sua existência anarquista. Portanto, a luta pela anarquia se manifestou de diversas formas e em diversas épocas. Seria um erro grave ignorarmos esse fato e considerarmos 'lutas anarquistas' aquelas lutas onde o termo anarquista ou anarquismo foi usado para definir e defender um movimento. As tentativas de articular a formação de um movimento anarquista unificado e organizado formalmente não faria nada mais nada menos do que tentar controlar uma luta que sempre toma e deve tomar diversas formas e em diversos contextos. Apesar da importância histórica do movimento anarquista, reconhecer que a anarquia não é fruto de uma idéia estudada e/ou formulada, e sim de uma experiência vivida, uma tensão, uma condição de existência, é extremamente importante e saudável para construirmos uma existência livre, e ao longo deste caminho experienciarmos situações libertárias.
 



Religião, espiritualidade e anarquia 

"É provável que os seres humanos desde sempre tenham tido encontros com o mundo ao seu redor e vôos das suas imaginações que tenham evocado um expansivo sentido de deslumbramento, uma experiência do maravilhoso. Fazer amor com o oceano, devorar a gelada lua de hortelã-pimenta, saltar em direção às estrelas numa louca e deliciosa dança" - Wolfi Landstreicher, em Rede de Dominações
 

A religião é o resultado de uma ausência da plenitude em nossa própria existência. A religião surge no momento em que estas experiências ou a própria existência plena, com um sentido de comunhão com o todo, tenha se perdido e uma sensação de desassossego toma lugar. Este é o sentido da palavra 'religião' (do latin religare), uma espécie de esforço em 'religar' esta conexão perdida. Restaurar uma espiritualidade que uma vez era comum a todos.
 
Esta espiritualidade que uma vez era comum a todos foi perdida quando começaram a existir os especialistas entre os humanos, e um dos primeiros especialistas foi o xamam. O xamam foi concentrando habilidades que uma vez eram comum a todos, nas mãos de um só indiviudo. Essa concentração de poder enfraquece espiritualmente os outros individuos, dando início a dependência de um expecialista para as questões agora chamadas "espirituais" e dando assim o inicio a religião. Neste processo, o xamam, o padre, o sacerdote, o bispo monopolizam, manipulam e controlam este acesso à espiritualidade, para a percepção do 'maravilhoso' e da sensação de comunhão com o todo, estes especialistas aprisionam estas percepções e passam a dar explicações e a mediar estas experiências que são COMUNS A TODAS AS PESSOAS. Criando noções hierarquicas, de sagrado e divino etc. Como foi dito ja uma vez, os especialistas "não entram e não deixam entrar ".
 
Consequentemente podemos dizer que estes xamans foram os primeiros lideres, e toda hierarquia e autoridade acaba sendo justificada por motivos religiosos.
 
E certamente a religião é um dos primeiros recursos para justificar uma sociedade dividida em dominantes e dominados, para justificar toda espécie de hierarquia.
 
Obviamente falar sobre a questão da religião e da espiritualidade é algo que rende muito debate e reflexão . Como foi dito acima, as religiões ou movimentos religiosos e espirituais surgem com um intuito de reatar uma plenitude perdida. Sendo assim, muitas pessoas encontram inspirações libertárias e anarquistas em diversas correntes religiosas. Encontramos manifestações e inclinações libertárias em praticamente todas as religiões: cristianismo, budismo, hinduismo, taoismo, islamismo, xamanismo e outras. Estes anarquistas "religiosos" rejeitam qualquer autoridade ou hierarquia religiosa. Movimentos e indivíduos com estas buscas e propostas surgiram ao longo de toda a história.
 



Civilização e Capitalismo 

É cada vez maior o número de anarquistas que vem reconhecendo a própria civilização como a origem de toda a destruição da espécie humana, do planeta e de seus habitantes. O capitalismo é apenas a atual manifestação da civilização.
 
Qual o problema da civilização? Por que devemos destruí-la? Pode parecer absurdo afirmações como "destruir a civilização", mas a questão é simples, estamos tão acostumados com a idéia de que 'civilização' significa 'organização humana' que quando ouvimos uma ameaça contra a civilização entendemos que seja uma ameaça contra a própria humanidade.
 
Apesar das civilizações terem surgido em várias épocas e em vários locais diferentes, tomando várias formas e dimensões (é de extrema importancia ressaltar que as civilizações são algo extremamentes recentes na história humana, abrange cerca de 1% de nossa história), podemos apontar alguns elementos - fundamentos - comuns que caracterizam todas as civilizações. Fundamentos que são a antitese da vida livre e plena:
 
Domesticação (de animais e plantas), divisão de trabalho, classes sociais, sociedade de massas, subjulgação da mulher, exploração e destruição ambiental, aparatos de controle social (exércitos, guardas, polícia), aparato militar, Estado, tecnologias avançadas de produção e controle.
 

Daniel Quinn em seu livro Ismael, fala de algo como o "o grande esquecimento" da humanidade, o esquecimento sofrido pelos civilizados de como era a vida antes da civilização. Este grande esquecimento é um dos pré-requisitos para o surgimento da civilização, devemos esquecer como era e como pode ser a vida antes e fora da civiliação, devemos esquecer que a vida humana e os modos como humanos podem viver podem tomar diversas formas que não sejam coercitivas e ambientalmente prejudiciais.
 
A civilização se impõe psicologicamente nos fazendo acreditar que o modo de vida civilizado é a melhor forma de se viver. E é de extrema importância termos em mente que a tragétoria do estilo de vida de bandos ou tribal de caça e coleta para uma vida civilizada nunca foi feita de forma livre e espontânea, este processo sempre foi levado na base da espada e do extermínio. A civilização não é um fenomeno natural ou um caminho seguido espontâneamente pelos humanos, a civilização é um mundo imposto!
 



Contra as Sociedades de Massas 

A anarquia é incompatível com a uma sociedade de massas. As sociedades de massas são demasiadas complexas para que possam existir sem qualquer espécie de controle, sem alguma forma de especialização para controlar e organizar a produção e a distribuição entre a sociedade. Esta especialização cria uma sociedade dividida entre aqueles que controlam e os que são controlados, alienando a nossa capacidade de autonomia.
 
Nesta sociedade a experiência direta entre os indivíduos e a capacidade de se organizarem livremente de acordo com suas afinidades e desejos é potencialmente prejudicada.
 

A sociedade de massas também é responsável não só pela alienação entre os individuos, é resposável igualmente pela alienação humana em relação a natureza. Favorecendo uma falsa distinção entre humanos e natureza.
 
As sociedades de massas são ecologicamente insustentáveis, pois para abastecer tal sociedade quantidades cada vez maiores de recursos precisam ser extraídos constantemente para a o seu funcionamento, o que ocasiona problemas ecológicos bem conhecidos hoje.
 
Para construirmos uma sociedade anarquica temos que ter em mente a descentralização das comunidades humanas, devemos construir uma comunidade o suficiente pequena para que todos os individuos sejam honrados e que nossa experiência direta entre os indivíduos e a natureza não seja comprometida.
 



Biocentrismo vs Antropocentrismo 

Combater as dominações sem questionar a domesticação e a agricultura, sem questionarmos e combatermos o antropocentrismo apenas continuariamos a reproduzir a mesma sociedade autoritária e opressiva que tem arruinado a vida no planeta até agora.
 
O antropocentrismo é uma visão de mundo que coloca nós humanos como uma espécie superior as outras espécies, nos coloca no centro da existência. Uma perspectiva que tem justificado o domínio humano sobre a terra e os outros animais, uma perspectiva que nos destaca deste mundo, nos deixando 'acima' das demais interações da natureza.
 
O biocentrismo não desconsidera a comunidade humana, mas nos tira do pedestal que tem justificado todas as práticas humanas abusivas contra o mundo natural, e nos insere neste planeta como mais uma das espécies que o habitam.
 
Não existe hierarquias naturais, nem mesmo competição entre as espécies para dominar o mundo. Cada espécie tem suas características e universos, as espécies 'evoluem' da água para a terra, da terra para a água, em constante adaptação.
 
Um comportamento ou visão de mundo que se baseia numa suposta superioridade de uma espécie (no caso nós humanos) só pode resultar na atual condição de eminente catástrofe ambiental que estamos enfrentando. Esta mentalidade está destruindo tudo e deve acabar.
 



Patriarquismo 

"Para o início da mudança para a civilização, uns dos primeiros produtos da domesticação é o patriarquismo: a formalização da dominação masculina e o desenvolvimento das instituições que a reforçam. Criando falsas distinções e divisões sexuais entre homens e mulheres, a civilização novamente cria um "outro" que pode ser "coisificado", controlado, dominado, utilizado e transformado em produto. Isso ocorre paralelamente à domesticação de plantas na agricultura e animais para criação, em uma dinâmica geral, e também específica, como é o caso do controle da reprodução. [...]
 
O patriarquismo exige a subjugação feminina e a usurpação da natureza, nos impulsionando a aniquilação total. O patriarquismo define o poder, o controle e o domínio sobre a vida selvagem, a liberdade e a vida. O condicionamento patriarcal domina todas as nossas interações; com nós mesmos, nossa sexualidade, nossa relação uns com os outros e a nossa relação com a natureza. Isso limita severamente o espectro de possíveis experiências.
 - Green anarchy collective - O que é a anarquia Verde? Uma introdução ao pensamento e prática anarquista anti-civilização 


Combater as dominações que alteram e prejudicam as interações naturais entre os individuos e entre os individuos e o planeta significa direcionarmos nossas lutas contra uma das fontes de todas as domesticações: O patriarquismo. A luta pela anarquia é uma luta anti-patriarcal, e esta é uma luta para ser travada cotidianamente, identificando as 'impregnações' do patriarquismos em nossas relações entre nós mesmos e entre a natureza.
 



Anti-militarismo 

O Estado para manter seu controle sobre individuos e comunidades, para confrontar e inibir qualquer força que significa ameaça, usa o militarismo como um recurso básico. Obviamente ser um policial, um militar, ou carcereiro etc, é colaborar com o Estado e com as suas agressões, é colaborar para que o Estado e o capital continuem com seus projetos de domínio sobre nós e sobre a terra. Temos que combater este braço armado do Estado através da ação direta e da desobediência.
 



Anti-Nacionalismo 

O Nacionalismo separa a humanidade e cria um campo de guerra entre as diferenças.
 
Os estados usam o nacionalismo com conceitos de 'unidade' e 'naçã'o para criar uma especie de 'corpo nacional' onde todos tem a obrigação de defender e venerar, algo como 'defender a patria mãe' etc.
 
Esses conceitos camuflam muito bem o que esta por trás de "defender a pátria" ou a nação. Camufla muito bem os interesses de domínio e expansão daqueles que possuem o poder. O nacionalismo é uma ferramenta usada pelos dominantes para criar uma espécie de sentimento de unidade numa sociedade dividida.
 
Tal ferramenta substitui o sentimento e o conceito de "comunidade" pelo conceito de "nação" e "amor à patria".
 
A pratica nacionalista é inerentemente racista, o nacionalismo foi construido com base no racismo. O nacionalismo cria a percepção totalmente errônea do "estrangeiro".
 
O Nacionalismo foi algo usado em diversas épocas e de diversas maneiras diferentes, mas sua natureza é unica, é criar um sentimento de unidade e de fidelidade a esta unidade. Mas tal unidade, é bom lembrar, é a unidade de uma sociedade dividida entre exploradores e explorados, e a fidelidade à patria e à nação é a fidelidade a esta sociedade.
 

Como Fredy Perlamn colocou: "Nas pegadas dos exércitos nacionais segue a marcha do progresso. Esses exércitos patrióticos foram (e são) uma das maravilhas burguesas. Neles, lobo e cordeiro, aranha e mosca marcham juntos. Neles, proletários são companheiros de seus exploradores, camponeses endividados são amigos dos credores, o tolo é sócio do trapaceiro num empreendimento movido a ódio. Um ódio dirigido a potenciais fontes de capital, os ditos infiéis, selvagens, raças inferiores."
 

A humanidade é uma só comunidade, com todas as suas diferenças e diversidade. Conceitos racistas e separatistas como o nacionalismo apenas nos afastam de entendermos e compreendermos que somos uma só comunidade, e que devemos compartilhar o mundo.
 

Nascer aqui ou ali é inevitável, mas vangloriar-se disto é uma limitação extrema e perigosa.
 


Crítica da Tecnologia 

"Criticar a tecnologia, por exemplo, significa compor o quadro geral, olhá-la não como um simples conjunto de máquinas, mas antes como uma relação social, como sistema; significa compreender que um instrumento tecnológico reflete a sociedade que lhe produziu e que sua introdução modifica as relações entre os indivíduos. Criticar a tecnologia significa rechaçar a subordinação de cada atividade humana aos tempos da ganância. De outro modo seria impossível atacá-la. O mesmo vale para as escolas, os quartéis, os escritórios. Se trata de realidades inseparáveis das relações hierárquicas gerais e mercantis, mas que se concretizam em lugares e homens determinados."
 Ai Ferri Corti 

A tecnologia não é uma mera ferramenta a serviço do ser humano, a tecnologia também não é apenas um amontoado de silicone, fíbras ópticas, plugs, soldas e dispositivos, tecnologia é um sistema, um sistema que separa as pessoas de si mesmas, dos outros e da natureza, ela não é uma ferramenta, ela representa e incorpora o sistema que tem subjulgado e destruido a vida.
 
Uma ferramenta simples se difere da tecnologia porque tais ferramentas podem ser descartadas logo após serem usadas e não criam um abismo entre o usuário e seu objetivo direto. Uma ferramenta simples não escraviza seu usuário.
 
Uma sociedade que se baseia em tecnologias é uma sociedade dependente e está nas mãos dos especialistas. O que compromete a liberdade indivual e a autodeterminação dos individuos e comunidades.
 
"Aqueles que ainda enxergam a tecnologia como algo "neutro", como uma mera "ferramenta" que existe aparte dos valores e sistemas sociais dominantes estão criminalmente cegos ao ímpeto anulador de uma cultura de morte. " John Zerzan - Dicionário Niilista: Inteligência artificial
 



Contra o Industrialismo 

"Um componente-chave da estrutura tecno-capitalista moderna é o Industrialismo, um sistema mecanizado construído no poder centralizado e na exploração de pessoas e da natureza. O industrialismo não pode existir sem genocídio, ecocídio e colonialismo. Para mantê-lo, a coerção, desapropriação de terras, trabalho forçado, destruição cultural, assimilação, devastação ecológica e o mercado são aceitos como necessários ou mesmo benéficos. A padronização da vida pelo industrialismo transforma a vida em objeto e em bem de consumo, encarando toda vida como potenciais recursos.
 
Uma crítica do industrialismo é uma extensão natural da crítica anarquista ao Estado, pois o industrialismo é inerentemente autoritário. Para manter uma sociedade industrial, deve-se conquistar e colonizar terras para (geralmente) conseguir recursos não-renováveis para abastecer e lubrificar as máquinas. Este colonialismo é racionalizado pelo racismo, sexismo, e chauvinismo cultural. No processo para adquirir esses recursos, as pessoas devem ser forçadas a sairem de suas terras. E para fazer as pessoas trabalharem nas fábricas que produzem as máquinas, elas devem ser escravizadas, devem se tornar dependentes e sujeitas ao sistema industrial tóxico e degradante. "
 
Green Anarchy collective - O que é a anarquia Verde? Uma introdução ao pensamento e prática anarquista anti-civilização
 



Contra o Roubo da vida - Contra o trabalho 

Boa parte de nossas vidas, de nossas tardes , de nossas manhãs e noites são roubadas pelo trabalho. E na maioria dos casos trabalha-se em lugares que não gostamos, fazendo coisas que não gostamos e tudo isso simplesmente para comprarmos coisas que na realidade não precisamos.
 
Bob Black em "A Abolição do Trabalho" afirma que "estamos tão próximos do mundo do trabalho que não conseguimos ver o que ele faz conosco".
 
O trabalho nos empobrece, arruína nossos espíritos, nos enfraquece como indivíduos capazes de desenvolver as mais diversas habilidades e de enfrentar e experimentar as mais diversas situações.
 
Ao contrário do que a mídia, o Estado, os partidos e sindicatos, a esquerda e a direita, o clero e a escola afirmam, o trabalho não é sinônimo de atividade humana, trabalho é sinônimo de alienação humana. O trabalho é o roubo de nossa energia criativa para os fins que não nos interessam e que geralmente são prejudiciais a nós mesmos e ao planeta.Vamos encarar a realidade, ninguém trabalha porque quer, somos induzidos ao trabalho porque o Estado e o capital trabalham juntos para garantir a sobrevivência às custas da humanidade e da Terra, e para isso bombardeiam nossas mentes 24 horas por dia com a mentira de que existe somente esta forma de viver (trabalhar e pagar contas), de que não podemos viver de outra maneira. Fora disso é ilusão, loucura!
 
E quando acreditamos nessa mentira, acabamos com as nossas vidas trabalhando em lugares que não gostamos, fazendo coisas que na realidade não nos interessam.
 
Se desvincilhar do universo do trabalho através da construção da autonomia é um projeto vital para retomarmos o controle e o significado de nossas vida.
 



Contra a Paralisia de Nossas Capacidades - Contra a Escola 

Escola: um lugar onde a vontade de aprender e ensinar dos individuos são usurpadas para os objetivos de dominação do sistema.
 
A escola é o espaço físico onde os indivíduos não só são preparados para o trabalho, mas são também preparados para aceitar o trabalho e ver o mundo de acordo com a ordem dominante. Nestes centros de domesticação, a necessidade e a vontade natural dos indivíduos em querer aprender, investigar e a compartilhar conhecimentos é alienada, violentada, controlada, reprimida, governada e manipulada. Não é de se estranhar que governos atualmente obriguem os pais a colocarem seus filhos em escolas. Onde mais fariam as pessoas aprenderem desde cedo a obedecer, cumprir tarefas e prazos, aceitar a hierarquia e a autoridade? Acorde cedo, esteja no horário certo, vista seu uniforme, aguarde o sinal, memorize seu número de chamada, entregue o trabalho, se comporte para não acabar na diretoria. Professora, posso ir ao banheiro?
 
Nossa infância e juventude e a de nossos filhos são arruinados em lugares como este. Mesmo em uma "escola livre" a situação ainda está sob controle, ainda é um lugar com horários e datas para separarem o aprender e ensinar dos outros aspectos e momentos da vida. A "escola livre" ainda colabora com a fragmentação da vida. O que queremos é uma vida íntegra e fluída, e não fragmentada. Devemos experimentar novas maneiras livres e igualitárias de compartilharmos o conhecimento da experiência humana, experimentar maneiras que não reproduzem nenhum tipo de dominação.
 



Anarquia é Incompativel com Reformismos 

A anarquia, a luta pela existência anarquista é incompativel com o reformismo, ou seja, é incompativel com a negociação com o inimigo, com a negociação com aqueles que roubam a nossa vida, com aqueles que alteram e deturapam nossa existência e envenenam o mundo. Os partidos, sindicatos, ongs e até mesmo organizações formais anarquistas são parte deste esforço reformista em não romper com este mundo. Eles visam negociar a exploração das pessos e da terra, manipulam as iniciativas e vontade das pessoas em benefício próprio e não rompem com este mundo, não declaram guerra ao inimigo.
 
O partido revolucionário busca implementar a sua política via eleições, é uma especie de Estado menor. Portanto nosso inimigo óbvio.
 
O sindicato busca negociar com os capitalistas o preço da exploração, portanto um carrasco por acidente.
 
E as organizações formais, buscam a valorização de sua propria organização em detrimento da luta, buscam controlar a luta e minar as iniciativas autonomas. Portanto buscam uma imagem de sucesso, e não a real transformação de nossas vidas.
 

O reformismo requer a negociação com o inimigo. Embora o objetivo do anarquista seja a destruição completa do inimigo, muitas vezes encontramos a contradição do reformismo entre os anarquistas (ex: Anarco-sindicalistas e algumas formas de anarco-comunismo). Negociar com o inimigo danifica qualitativamente o avanço de nossas lutas contra esta ordem atual. Ja foi dito que as reformas apenas deixam a situação melhor suportável, ou seja, as dominações se camuflam de forma mais eficiente, e o que está por trás de toda esta situação fica mais difícil de enxergar.
 



Não se separa pensamento da prática 

"Quando acordamos de manhã e colocamos os pés no chão, devemos ter uma boa razão para nos levantarmos, se não, não faz diferença nenhuma sermos anarquistas ou não. Podemos muito bem continuar na cama e dormir. E para termos uma boa razão, devemos saber o que queremos fazer; porque para o anarquismo, para o anarquista, não há qualquer diferença entre o que fazemos e o que pensamos; há sim uma contínua inversão de teoria em ação e de ação em teoria. É isso que torna o anarquista diferente de qualquer pessoa que tenha outro conceito de vida e que cristaliza este conceito numa prática política, em teoria política. É isto que normalmente não vos é dito, é isto que vocês nunca lêem nos jornais, é isto que não está escrito nos livros, é sobre isto que a escola invejosamente se mantém calada, porque isto é o segredo da vida: nunca separem o pensamento da ação; as coisas que sabemos, as coisas que compreendemos, das coisas que fazemos, das coisas com as quais levamos a cabo nas nossas ações. Aqui está o que distingue um político de um revolucionário anarquista. "
 
Alfredo Bonanno - A tensão Anarquista
 

Não separar pensamento da ação não se trata de purismo ou seguir "regras anarquistas", a anarquia não é uma seita com regras e normas de conduta.
 
Nao separar pensamento da ação significa uma 'tensão anarquista', um direcionamento. Significa uma tensão em nos desvincilharmos de todas as dominações e micro dominações que nos impedem de vivermos uma vida plena. É de fato uma busca por uma qualidade de vida, mas tal qualidade de vida é uma transformação em nossas vidas que deve afetar o todo social. Os tópicos a seguir irão tratar mais especificamente sobre esta questão.
 



Revoluções Diárias - Autonomia 

Não temos que esperar por uma revolução para podermos então vivenciar tudo aquilo que acreditamos e que desejamos, alias a tal revolução só é possivel se começarmos a praticar pequenas revoluções diárias aqui e agora. Neste tópico vamos dar alguns exemplos (e não modelos ) de estratégias e alternativas para construirmos nossa autonomia e ficarmos cada vez mais independente da máquina civilizadora.
 

Ocupações/squats:
 
Ocupar casas e construções abandonadas é um estratégia importante para criarmos espaços libertários de convívio, espaços antes vazios e ociosos se transformam e Centros comunitários com bibliotecas, hortas comunitarias, espaços para oficinas e trocas de informações.
 

Desobediência:
 
Embora cada vez mais independente da atividade humana devido a tecnologia, o sistema necessita de nossa submissão ao seu projeto.
 
A desobediência tem um papel extremamente importante aqui. Desobedecer significa não colaborar com este sistema, e isto nos coloca em contato com a responsabilidade de estarmos permanetemente em conflito com esta ordem, nos coloca em contato também com necessidade da solidariedade revolucionária (sobre o que falaremos mais adiante).
 
Recusar votar, recusar o serviço militar, ou qualquer outra "obrigação" imposta pelo sistema é algo extremamente importante, mas não podemos parar por ai, temos que destruir este mundo de obrigações e submissão.
 

Não colaboração com a mídia:
 
O Estado é a administração de toda a destruição do mundo, e a mídia é seu propagandista e hipnotizador. Portanto se queremos criar a autonomia e destruir a máquina de morte, não colaborar com a mídia e sabotá-la é uma estratégia essencial.
 
Muitos anarquistas acreditam que podemos usar a midia como ferramenta de propaganda. Sim, temos o problema da propraganda, divulgar nossas idéias e propostas, não colaborar com a midia nos coloca numa posição onde temos que criar nossa propria mídia, nossos modos autonomos e criativos de divulgarmos nossas críticas e propostas. Se engana quem pensa que a midia pode fazer isso por nós.
 

Práticas e estratégias que nos tornam menos dependentes da necessidade do trabalho e de recursos do sistema:
 
Podemos começar agora a experimentar a construção de uma atmosfera de autonomia, sempre na tensão de melhorar a sua qualidade e variedade. Alguns exemplos breves neste sentido são: a reutilização da água da chuva, banheiro seco, fogão a lenha, uso de transportes mais economicos e não poluentes como a bicicleta; hortas comunitárias, garimpo urbano (a prática de recuperar aquilo que foi descartado mas que ainda pode ser útil, e a utilização de outros recursos que encontramos num abiente urbano, como por exemplo a coleta de alimentos desperdiçados em fins de feira); reconhecimentos das ervas comestíveis e medicinais, artesanato, educação autônoma, coletivização de recursos, e por ai vai, até onde nossa criatividade permitir.
 

Resgate de práticas sustentáveis indígenas:
 
Em relação a autonomia e a vida em harmonia com o mundo natural, os povos indigenas são com quem temos mais que aprender, e são principalmente os quais a cultura de morte está dizimando, do inicio da civilização até hoje. Por isso temos a necessidade urgente de destruir a cultura de morte antes que ela destrua os ultimos resquícios de nossa natureza humana, caso contrário o trabalho de resgatarmos a capacidade de cuidarmos de nós mesmos e de nos reconectarmos com a terra será mais difícil e doloroso.
 
Resgatar práticas indigenas não significa nos apropriarmos das culturas indigenas, dos seus costumes e crenças, existem técnicas e habilidades que todos os povos indigenas compartilham, que é a capacidade se reconhecer parte do meio ambiente e de um íntimo conhecimento do meio ambiente em que vive, conhecimento do clima, plantas, animais, fontes de água, minerais, solo, e como utilizar cada um destes elementos. Esta é uma das valiosas lições que temos que Re-aprender com os povos indigenas. Somos todos indigenas, e voltaremos a ser. E esta afirmação nos leva ao proximo item.
 

Feral:
 
"Fe-ral adj. Selvagem, ou existente em um estado natural, assim como ocorre com animais ou plantas; o que foi revertido da domesticação para o estado selvagem." Feral - Dicionário Niilista - John Zerzan
 

A civilização é baseada na domesticação, na domesticação humana, animal e das plantas. Isto significa que a civilização é baseada no controle de algo que nasceu para ser livre e pleno, sem este roubo da vida a civilização não pode existir. Este é o fundamento de qualquer civilização: controle do selvagem, controle do natural, simplesmente o domínio.
 
O processo de nos tornarmos ferais é o processo de nos desfazermos de toda domesticação, é um processo de cura, um processo de nos tornarmos novamente selvagens, de nos tornarmos seres livres e plenos. É o retorno ao natural, o retorno a terra, a anarquia original.
 

Insurgência Nomade:
 

"Agricultures se apossam da terra e trabalham nela. Posse e trabalho são as definições básicas da atividade dos agricultores. Nomades atravessam o espaço e o transformam através de interações - movimento e atividade são as atividades basicas dos nomades.
 
Agricultores necessitam de habitos, rituais, consistencia, unidade. Nomades quebram habitos, transformam, variam, diversificam. Agricultores idolatram a ordem. Nomades criam o caos.
 

A agricultura é a origem da ética do trabalho, devido o agricultor ser aquele cuja a vida é criada para o trabalho de cultivar. O agricultor não pode criar nenhum momento para si que entre em conflito com as necessidades do trabalho agricola - caso contrario, a lavoura fracassa e o agricultor perde sua identidade, e possivelmente sua sobrevivência. O tempo - uma constante e padronizada medição de movimento - é essencial ao agricultor - sua mobilidade pelo espaço não é mobilidade através do espaço - não essencialmente - mas o trabalho da terra. Isto é baseado em ordem, o controle de ciclos medidos.
 

Nomadismo - pelo menos em atitude - é essencial para a autonomia. A recusa da permanência, a recusa de uma patria.
 " 
Insurgência Nômade - Feral Faun
 

Talvez esta seja uma prática que ainda será bastante discutida e praticada, uma prática a ser redescoberta como estratégia libertadora. Como prática subversiva e libertária o Nomadimso Insurgente não é algo novo, apenas não é tão difundido e nem mesmo conhecido como "insurgencia nomade" (ao menos no Brasil).
 
Nós, humanos, somos uma espécie que durante 99% de nossa existência vivemos como coletores-caçadores nômades, (apenas 1% da história humana vivemos, devido a uma cultura autoritaria e dominadora, como seres sedentários). Isto significa que somos o que somos (com nossos sentidos, corpos e mente, etc) porque vivemos e nos desenvolvemos como seres nômades, seres não sedentarios. Portanto, para uma vida livre e plena é necessário resgatarmos aspectos de nosso nomadismo ancestral e entendê-lo. Qual animal em estado selvagem (isto é, em estado livre e natural) é sedentario?
 



Auto-Defesa, Ação Direta e Insurreição 

Para construirmos um novo mundo temos que destruir o velho, ou então correremos o risco de cedo ou tarde sermos engolidos novamente pelo sistema. A ação direta, o que inclui a sabotagem, exerce aqui um importante papel, e o insurrecionalismo nos inspira com a atmosfera do conflito permanente contra esta ordem. Obviamente construirmos uma relidade autonoma significa um forte ataque contra este sistema de dominações. Porém, é necessário igualmente um ataque contra as manifestações e estruturas físicas da civilização, assim como desenvolvermos também uma capacidade de auto-defesa de nossa autonomia.
 

Auto-Defesa:
 
Precisamos construir uma cultura de auto defesa, as artes marciais e esportes como parkour podem nos oferecer boas informações . A auto defesa é exigida em diversas situações, desde um simples passeio pelas ruas onde podemos ser surpreendidos por otários fascistas, até mesmo quando fugimos da policia, caso sejamos pego de supresa numa ação direta, ou entao numa manifestação, e quando corremos risco de despejo em nossas ocupações. Este é um tema em aberto, e ainda pouco debatido e praticado por aqui no Brasil. Porém de importancia vital
 


Ação Direta:
 
A ação direta na verdade é uma forma de auto defesa, mas digamos que é uma auto defensa 'ofensiva' . por exemplo, incendiar as instalações, maquinários e ferramentas de uma futura construção (uma rodovia ou hidrelétrica por exemplo) que irá devastar uma grande area de floresta e prejudicar aldeias indigenas é um ato de auto defesa, mas também é um ataque.
 
Grupos clandestinos sob a sigla da ALF (animal liberation front) e ELF (earth liberation front) são alguns exemplos de ação direta que utilizam a sabotagem e danos materiais e econômicos como forma de impedir as práticas que tem arruinado o planeta, matando e humilhado os animais. a Alf e Elf não possuem líderes, nem organizações formais, sede etc, qualquer um pode agir em nome destas siglas para sabotar aqueles que destroem a terra e denunciar tais práticas.
 


Insurrecionalismo:
 
O insurrecionalismo é uma perspectiva que visa identificar as dominações e atacar, sem esperar uma crítica pura, final e verdadeira. Insurrecionalismo é o conflto permamente contra esta ordem , visando a destruição do sistema e a retomada imediata do controle de nossas próprias vidas, de acordo com nossos desejos e afinidades. O insurrecionalismo também visa criar uma atmosfera ou um momento de revolta generalizada contra a ordem dominante.
 


Autonomia da luta - Cultura de Segurança - Solidariedade Revolucionária 

Pela qualidade e não Quantidade
 
Por muito tempo, temos encarado a resistência contra o sistema, como algo que necessita de quantidade, um grande movimento revolucionário, movimentos de massas, etc. Esta mentalidade de certa forma tem nos atrapalhado até hoje em entendermos que é necessario um foco na qualidade da luta e não na quantidade (embora a quantidade é importante, mas em outros aspectos). Com esta mentalidade, por exemplo, deixamos de fazer transformações reais em nossas vidas diretamente quando estamos preocupados mais com a quantidade do que com a qualidade. Isso acontece quando nossos esforços se concentram em construir um grande movimento ao invés de criarmos aqui e agora em nossas vidas uma atmosfera autonoma e em conflito com a ordem social. Não que a quantidade não seja importante, o problema é quando o foco de nossas atividades e projetos priorizam a quantidade.
 

Autonomia da luta
 
Quando falamos em autonomia da luta, significa que a luta antes de tudo deve ser autonoma, não é necessário se filiar ou formar nenhum movimento, o importante aqui é estar decidido em levar adiante um projeto insurrecionário contra o sistema.
 

Grupos de afinidade
 
Estando decidido levar adiante um projeto insurrecionário, nos unir com aqueles que temos afinidades pessoais e com tal projeto é de extrema importância, formando assim um grupo de afinidades. Um grupo de afinidades permite que os indivíduos envolvidos, que se conhecem profundamente, facilite melhor o entendimento e o desenvolvimento dos projetos e atividades, e também dificulta a infiltração de informantes em nosso meio.
 

Cultura de segurança 

"Então o que é uma cultura de segurança?
 

É uma cultura onde as pessoas conhecem os seus direitos e, mais importante, fazem uso deles. Aqueles que pertencem a uma cultura de segurança sabem que comportamentos comprometem a segurança e estão imediatamente prontos para educar aquelas pessoas que, por ignorância, esquecimento, ou fraqueza pessoal, tomam parte de comportamentos de insegurança. Esta consciência de segurança torna-se uma cultura quando o grupo no seu todo faz violações de segurança socialmente inaceitáveis no grupo.
 

O que não dizer, para começar. Existem certas coisas que são inoportunas para discutir abertamente. Estas coisas incluem:
 

- O seu envolvimento ou o envolvimento de alguém com algum grupo clandestino;
 
- O desejo de alguém em envolver-se com esse tipo de grupos; perguntar aos outros se são membros de um grupo clandestino;
 
- A sua participação ou a participação de alguém em qualquer ação ilegal;
 
- A alegação de alguém para tais ações;
 
- Os seus planos ou os planos de alguém para uma ação futura.
 
- Essencialmente, é errado falar acerca de envolvimentos individuais específicos (passado, presente ou futuro) com atividades ilegais. "
 

- Trecho retirado do panfleto "Cultura de Segurança" -
  http://ervadaninha.sarava.org/culturaseg.html 

Por não estarmos mais vivendo em uma ditadura declarada tendemos a negligenciar quase que completamente a nossa própria segurança. Adotar uma cultura de segurança é algo básico para qualquer individuo ou coletivo envolvido em atividades e iniciativas anti-sistema.
 



Solidariedade é vital
 

Mesmo adotando uma cultura de segurança, corremos o risco de sermos presos pelo Estado. Por sermos exatamente contra o sistema somos uma espécie de crimonosos. Portanto o que o estado enquadra como crimino ou como inocente não faz tanta diferença para nós. O fato é que o Estado tem o poder de encarcerar nossos companheiros e usar tal intimidação para abafar nosso movimento. A solidariedade revolucionária não pode se resumir em manifestações pacíficas de apoio ou redes de suporte ao camarada preso, apesar de tais esforços serem de grande importância, tendemos a ver a solidariedade revolucionária como apenas um apoio moral.
 
Temos que encarar a solidariedade revolucionária essencialmente como a continuação e intensificação da nossa propria luta, encarar a solidariedade revolucionária como o aprofundamento de nossa revolta e ações contra esta ordem que destrói nossas vidas, o planeta e apriosiona nossos companheiros.
 
Solidariedade revolucionária contra as vítimas deste sistema é a destruição do sistema.
 


Algumas últimas palavras 

Repetindo o que foi dito acima:
 
"A anarquia, em poucas palavras, é a luta contra todas as formas de dominações e a construção de uma existência livre e prazeroza.
 
Todo obstáculo para a existência de uma vida livre devem ser destruídos."
 

Esperamos com este material não que você se torne um "anarquista", isto é de menor importância, para nós o importante é que o conteúdo apresentado aqui, de alguma maneira, sensibilize os indivíduos a se tornarem ativos na transformação de suas próprias vidas e na consequente demolição deste sistema que tem nos privado da capacidade de viver da maneira como desejamos, e que tem continuamente destruído o planeta e seus habitantes, nos levando a aniquilação total.
 

"A revolta contra a civilização é a cura de uma profunda ferida de 10.000 anos de domesticação, é a destruição dos agentes que tem nos causado este pesadelo.
 
Existe uma guerra contra esta máquina, contra o roubo de nossa vida e a destruição do nosso planeta. Uma guerra pela vida contra a civilização.
 
E a pergunta não poderia ser outra: De que lado você esta?"
 



informações extras 

sites anarquistas:
 

Erva Daninha
 
 
http://ervadaninha.sarava.org 
iniciativa anarquista verde, site com estensa biblioteca, links etc
 

Largue
 
 
http://largue.cjb.net 
Ótimo site de critica à civilização, com muitos textos.
 

Raivindições
 
 
http://www.bloxster.net/raividita 
Conteúdo anarquista insurrecional. "A raividições é um projeto informal anarquista
 
de edição e publicação de ferramentas para serem usadas na guerra social."
 

Projeto Periferia
 
 
http://geocities.com/projetoperiferia 
(anticlerical, desobediência civil, arquivo situacionista, escritos de Leon Tolstoi etc)
 

Ativismo abc
 
 
http://ativismoabc.guardachuva.org/ 
Coletivo libertário da região do Grande ABC , São Paulo - O coletivo mantêm a casa da largatixa preta
 
onde acontece eventos, oficinas , debates , etc.
 

Célula Zero
 
celulazero.blogspot.com
 
Iniciativa anarquista-verde dos camaradas da Bahia
 

Biblioteca Virtual Revolucionária
 
 
http://www.geocities.com/autonomiabvr/ 
Site do grupo Autonomia, extenso material de ultra-esquerda, com traduções de
 
Jacques Camatte, Fredy Perlman entre outros anarquistas e comunistas autonomos.
 

Sabotagem
 
 
http://sabotagem.revolt.org 
"Conhecimento não se compra, se toma!"
 

Ciclovida
 
 
http://projetociclovida.blogspot.com/ 
Iniciativa eco-libertária com o intuito de "por afinidade, estabelecer discussões, conversas
 
e trocas de sementes crioulas - como também - o uso da bicicleta como meio de transporte ecológico".
 

Freegan.info
 
 
http://freegan.info 
Site inteiramente dedicado as idéias, perspectivas e práticas do freeganismo.
 


em espanhol e outras 



Palabras de Guerra
 
 
http://pgd.mahost.org/ 
Noticias da Guerra social, textos, links
 

Salvajismo
 
 
http://salvajismo.org 
Anti-civilização
 

Incendio
 
 
http://anti-politics.net/incendio/ 
"Uma publicação de solidariedade teórica bilingüe (espanhol/inglês) latino americana"
 

Mariposas Del Caos
 
 
http://www.mariposasdelcaos.cjb.net/ 
Ótimo site com muitas imagens e textos "que almejam contribuir ao combate anárquico
 
e reflexão pessoal do estado atual das coisas"
 

A Las Barricadas
 
 
http://www.alasbarricadas.org/noticias/ 
Contra-informação, notícias.
 

Caosmosis
 
 
http://caosmosis.acracia.net/ 
Biblioteca virtual com muitos textos, critica a civilização, anarco-primitivismo,
 
anarquismo insurrecionário, anarquia, temas relacionados etc etc
 

Vidange
 
 
http://vid.ange.free.fr/cadre.php 
Publicação francesa produzida por anarquistas, anti-autoritarios, squaters etc.
 

Guerra Sociale
 
http://www.guerrasociale.org/ 
Site anarquista italiano, com a analises, textos e artigos italianos traduzidos para o inglês.
 


em inglês:
 

Primitivism.com
 
 
http://www.primitivism.com 
Site inteiramente dedicado ao primitivismo
 

Eco-Action
 
 
http://www.eco-action.org 
Portal eco-anarquista
 

Do or Die
 
 
http://www.eco-action.org/dod/ 
Extinto periódico britânico com foco eco-anarquista, com uma ótima critica pós-esquerda.
 

Go Wild or Die Tryin
 
 
http://www.gowildordietryin.org 
Site dedicado a técnicas e conhecimentos primitivos para uma vida conectada ao selvagem
 

Green Anarchy
 
 
http://www.greenanarchy.org 
Revista de teoria e prática anarquista anti-civilização , EUA
 

Green Anarchist
 
 
http://www.greenanarchist.org 
Jornal anarco-primitivista inglês.
 

Wildroots
 
 
http://www.wildroots.org 
Wildroots se baseia num lote de 30 acres nos Estados Unidos, o foco é a vivência
 
e a aprendizagem e o desenvolvimento de técnicas primitivas para a reconexão ao natural
 

Insurgent Desire
 
 
http://www.insurgentdesire.org.uk 
Imenso arquivo de escritos anarquistas, anticivilização, anarquia verde.
 

Anarchy: A Journal of Desire Armed
 
 
http://www.anarchymag.org 
Ótima publicação anarquista americana
 

Anti-politics
 
 
http://anti-politics.net 

Killing King Abacus
 
 
http://www.geocities.com/kk_abacus/ 
Publicação anarquista insurrecionária americana (site lotado de ensaios insurrecionais)
 

Willfull Disobedience
 
 
http://www.geocities.com/kk_abacus/vbutterfly.html 
Publicação anarquista insurrecionária americana
 

Omnipresence Collective
 
 
http://omnipresence.mahost.org/ 
Um dos sites anarquistas mais completos: eco-anarquismo, libertação animal,
 
resistência indígena, insurrecionalismo, imagens, links, textos, etc
 

325 colletive
 
 
http://www.325collective.com/ 
Além de um excelente zine, um excelente site!!
 
Anti-prisão, autonomia, insurreição, arquivos, textos em varias línguas, links, zines e brochuras para download.
 

Radical Graphics
 
 
http://www.radicalgraphics.org/ 
Arquivos de imagens anti-autoritarios, ecológicos e outros
 
temas para montar um zine, panfleto, cartaz, propaganda etc.
 

Notícias anarquistas 

bombsandshields.blogspot.com
 
anarchistnews.org
 
325collective.com
 
blackandgreenbulletin.blogspot.com
 
ervadaninha.blogger.com.br
 
directaction.info (ALF)
 
earthfirstnews.org
 
bloxster.net/raividitanoticias
 

algumas leituras recomendadas:
 

Futuro Primitivo - John Zerzan
 
Correndo no Vazio ? John Zerzan
 
Ismael - Daniel Quinn
 
O maior erro na história da raça humana - Jared Diamond
 
Abolição do trabalho - Bob Black
 
A Rede de dominação - Wolfi landstreicher
 
Revolução Feral - Feral Faun
 
Uma Introdução ao Pensamento e Prática Anarquista Anti-Civilização - Green Anarchy collective
 
A tensão anarquista - Alfredo M. Bonanno
 
O prazer armado - Alfredo M. Bonanno
 
Reconheça, a sua politica é um puta saco - Crimethinc
 
Lições luditas - Kirkpatric Sale